sexta-feira, 6 de abril de 2012




Nua, ela olhava no espelho. Torceu a boca. Não lhe agradava o que via. As dobrinhas extras que cobriam seu corpo branquinho estragavam o conjunto outrora tão bonito. Como deixou chegar naquele ponto? Fei... Olhou de novo e antes que pudesse começar a pensar em auto-depreciação lembrou dele...

Ele a ensinara que não importava o formato do corpo, rugas ou marcas da vida estampadas na pele, era o conteúdo que fazia a diferença. E ela era especial. Ao pensar que estava horrível acima do peso, imediatamente lembrava-se dele dizendo que ela não devia se maltratar nem ser dura consigo mesma pensando coisas depreciativas. Ele a admirava pela força que ela tinha em continuar lutando pelo que queria. E a admirava por um milhão de coisas mais. 

Pele, cabelo, cheiro, formato violão do corpo, mãos, sorriso, cor dos olhos, joelhos, coxas, coração, cérebro, atitudes, saúde ... Se ela se parasse mais uns segundos para pensar chegaria à conclusão de que não havia nada que ele não gostasse nela. Então era isso que ela deveria fazer consigo mesma também!



Seu inconsciente, marcado pelos traumas e oprimido pelo ideal de beleza comercial, não iria vencê-la. Isso ele dizia sempre. E brigava com o inconsciente dela, quando lia por trás dos seus comportamentos auto-destrutivos. Se ele conseguia ver tanta coisa boa, ela não poderia mesmo se deixar vencer por aqueles momentos em que uma mulher se sente a última, sabe-se lá porque. 

E, pensando nele ela sorria. Sua influência sobre ela era simplesmente tudo que ela sempre precisara. O cuidado, o carinho, o companheirismo, tudo que ela sempre merecera. E ela se via de novo no espelho, com suas imperfeições comerciais, mas perfeita como mulher e sorria satisfeita. 


Pensava em quão profundamente esse homem conhecia sua alma e como a admirava. Estava sempre ao seu lado, impedindo que ela caísse ou inventasse algum suicídio psicológico com requintes de crueldade. Na verdade, ELE era especial!

E ela não sabia se alguma vez conseguira dizer isso a ele. Não sabia se ele sabia que valia tanto para ela. Não tinha certeza se alguma vez deixara transparecer o quanto ele era admirado como ser humano, como homem, como parceiro. Achava que não. 

Infelizmente, as pessoas, e ela não era exceção, deixam muitas vezes de dizer e mesmo de demonstrar o que realmente sentem pelas pessoas que amam. O dia-a-dia torna tudo muito natural e parece que não se dá a devida importância aos seres amados. Não aquela paixão moderna e líquida, nem aquele amor sofrido e impossível de romances pra meninas burras, mas aquele amor de verdade, que nasce da admiração e da sintonia diária de duas pessoas


Se ela estava de pé, devia isso a ele. Se ela conseguia agora combater seu maior entrave psicológico, em muito devia ao apoio dele. Se ela tinha uma vida feliz e cheia de sonhos e realizações, devia em especial a ele, que sempre dizia que não devia parar, que estava ali para qualquer maluquice, qualquer evento ou simplesmente para plantar uma hortinha com ela. 

Ela derramou uma lágrima, emocionada ao pensar nisso tudo. Não conseguia dizer, não era boa em encarar as pessoas amadas e dizer coisas de dentro do seu ser. Traço de sua personalidade. Mas sentia tantas coisas, saboreava tantos sentimentos que mal cabiam nela, e eles saíam em forma de lágrimas.

Ela esperava um dia poder dizer todo o valor que via nele, nas suas ações, na sua presença, nas suas palavras. Queria poder retribuir cada conforto que encontrava em seus braços. Queria expressar o tesão e o amor. Não sabia se seria possível, mas sabia que ele tinha paciência e que sabia ler suas entrelinhas. 

No fundo ele sabia que ela o amava.
Muito!


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