quinta-feira, 3 de outubro de 2013



Estou de dieta. Estou sempre de dieta. Ou melhor, dieta não, reeducação alimentar é mais moderno. Pelo menos dá a ideia correta de que é pra sempre. 

Almocei o permitido pela nutricionista: legumes, verduras e míseros 100g de proteína magra. Nada de carboidratos, nada de leguminosas. Ah, saudades do meu feijão e da batata (em qualquer formato que ela se apresente...)! Resumindo o almoço: muita alface e um pequeno pedaço de frango grelhado.


 Até aí já estou até acostumando. Como folha e mais nada sem problemas, e realmente não sinto fome. (A tal saciedade existe!) Mas o que ninguém tira de mim é o desejo mortal e intransferível de comer um doce depois do almoço! “Ô disgraça”!

Então aquele desejo de comer um doce bateu e bateu forte. (Só uma observação: doce é doce, não é fruta. Se doce fosse fruta ninguém era gordo! Doce é igual a chocolate ou calóricas bombas, sorvetes e tal. Isso sim tem açúcar de verdade, não fruta!) Continuando: eu queria um doce, mas tinha que resistir. Não estava na dieta e se eu abrisse uma exceção, seria igual a alcóolatra, não conseguiria parar.



Fui pagar o almoço a quilo no caixa e lá estava uma enorme cesta de trufas de chocolates enormes com os mais diversos recheios. Desviei os olhos, procurei não pensar no assunto e fingir que não via aquele bando de enormes bombons embrulhados em papel laminado florescente, chamando minha atenção. Saí ilesa do restaurante

No caminho de volta ao escritório tinha uma banca de jornal. Daquelas bancas de jornal de centro do Rio de Janeiro que tem tudo e mais alguma coisa. E essa tinha doces! Passei por ela, já sem resistência, com olhos pidões esticados pra dentro da banca, lendo de longe cada embalagem colorida de doce em busca de um chocolatinho. Queria um meio amargozinho qualquer. Apenas 20 graminhas, só pra dar um gostinho. Mas não tinha. Passei direto.

Frustrada, não encontrei  mais nenhum camelô de doces no caminho e entrei no prédio correndo pra comer minha porção de fruta seca como sobremesa: um figo (sem calda!) desidratado. Nooooosssssa! Que delícia. Docinho, né? Pelo menos escapei das calorias. Estou trancada no prédio e não há mais perigosos chocolates pra satisfazer minha gula.


Mas o desejo mortal do chocolate não me abandonava. Resolvi ir arrumar a caixa de mudança de um colega de trabalho para distrair. (O prédio todo do trabalho vai se mudar na semana que vem e esse colega trabalha sempre externo, por isso eu me encarreguei de empacotar pra ele.) Colocando as coisas do cara na caixa, achei dois pequenos chocolates em barra largados na gaveta dele sabe-se lá há quanto tempo. Aí começou meu conflito...

Eu não podia comer os chocolates porque não eram meus. Isso era errado – dizia o anjinho do meu ombro. Por outro lado, o dono deles jamais estava no escritório e possivelmente nem se lembrava de ter deixado dois chocolates abandonados em sua gaveta – dizia o diabinho do outro ombro. Decidi pelo correto e selei a caixa do colega com os chocolates dentro em meio a canetas, papéis, pasta de dente, elásticos, e várias tralhas de escritório.

 
Voltei pra minha mesa. O pensamento nos chocolates. Tão próximos de mim... mas tão distantes. Ai que vontade... “Esquece isso, Clarice! Você não pode ingerir essas calorias! Hummm, mas que vontade... Só um chocolatinho. Esses são baratinhos, depois você compra outros pra ele. Ninguém vai saber...” 

Minha mente não parava...
Três horas da tarde. Hora do lanchinho. Devia comer uma fruta e/ou uma colher de granola light opcional. Mas eu ainda pensava no diabo do chocolate! 

“Ah, que se dane!” – pensei, e levantei da minha mesa voando como uma flecha direto na caixa de mudança do colega de trabalho. Olhei as fitas adesivas que a selavam e ainda pensei em não fazer, mas a essa altura já estava doida de vontade e sabia que nada me impediria! Enquanto descolava as barulhentas fitas adesivas da caixa de papelão falei alto comigo mesma “Não acredito que eu estou fazendo isso!”


Finalmente abri! As mãos rápidas procuravam em meio à zona dos materiais de escritório do sujeito o tal chocolatinho. Achei um! “Só um”, pensei. Satisfeita, fechei a caixa com novas fitas adesivas e voltei pra minha mesa sorrindo, vitoriosa, com o chocolatinho. 

Saboreei-o com uma alegria inenarrável! O furto tinha valido a pena! Depois eu compraria outro novo para o cara. Sem problema. Custa menos de R$ 2,00. Continuei trabalhando...


Porém, o efeito alcóolatra se instalou em mim... Sentia uma urgência, uma necessidade, um desejo horrendos de comer o outro chocolate! Era agora praticamente impossível resistir. Eu tentava digitar algum email, porém meu cérebro só conseguia se concentrar no sabor do chocolate engolido que ainda estava em minha boca e pensava “tem mais de onde esse veio...” Parecia um eco fantasmagórico na minha cabeça, mas eu ouvia claramente o cérebro independente e autônomo, destacado da minha consciência dizer “pega o outro... pega  o outro... o outro... mais um...”

E tive que ir até a caixa de novo. Violei novamente as fitas adesivas e baguncei todo o material dentro da caixa procurando o outro chocolate. Bateu um desespero quando achei que não o encontraria ou que alguém poderia questionar o que eu estava fazendo ali, mexendo nas coisas alheias, mas acabei encontrando o delicioso pedaço de pecado! Ufa! 

Antes mesmo de terminar de fechar a caixa eu já tinha aberto o chocolate número dois e já o saboreava sofregamente. Nossa que pecado bom! Peco e peco de novo mil vezes! Chocolate! Valeu a pena cada risco!

No final do dia me peguei rindo de mim mesma, do ridículo que foi o meu surto em busca de uns pedacinhos de chocolate! Meu marido certamente me reprovaria... KKKK


0 comentários:

Postar um comentário