Esforço. Muito esforço. Dor. Muita dor.
E pior, esforço pra nada!
Cada passo esforçado doía. Saltando em uma perna só, de pulinho em pulinho, sem poder parar. Sentindo aquela dor queimando no músculo que sustentava todo o meu corpo... e eu não podia desistir, não tinha como parar. E ninguém podia me ajudar.
Ninguém pode andar por mim. Podem me dar água e o prato de comida na mão, podem ligar a TV para mim ou me agradar com um laptop para eu navegar pelo mundo. Mas não podem andar por mim. E nem podem evitar que eu sinta dor.
O pé quebrado, tornozelo inchado dentro do gesso. Pulsando dolorido. Mas a dor vem do resto do corpo todo. Os pulsos estalam do esforço nas muletas. Nas palmas das mãos formam-se bolhas de tanto agarrar o plástico duro das muletas. Os músculos das costas doem por sustentar a carcaça no ar a cada passo. Ácido lático... Muito ácio lático.
E enquanto eu me arrastava pela faculdade, a dificuldade de andar evidente, o corpo todo suava. Pequenas gotículas cobriam meus braços fazendo as muletas escorregarem. O esforço era demais. Não havia onde sentar, nem onde encostar. Os corredores pareciam infinitos. Os elevadores longe demais da sala de aula onde eu devia ir. E a dor... A dor queimando dentro do músculo da coxa sobrecarregada. O suor e a dor.
A insuportável dor, daquelas que indicam o máximo que você pode aguentar aquele peso na academia, quando você finalmente larga o peso porque chegou o seu limite. Essa dor, subindo pela coxa até o glúteo, forçando os ossos da perna todos. E eu não podia largar o peso. Não poderia largar meu próprio corpo no chão. Mas eu estava no limite... e tinha que continuar andando.
O suor escorria pela minha face, a testa avermelhada do esforço, os passos lentos e a ânsia de chegar a algum lugar onde houvesse cadeira pra parar com aquela dor alucinante. Mas não tinha cadeira alguma. Minutos se passavam, eu continuava pulando, me arrastando, o corpo todo contraído, buscando um equilíbrio difícil. Terror. E dor.
Depois do elevador, sentada no ar condicionado do carro, sendo levada de volta pra casa, a sensação de ódio. Um ódio grande demais, que não me deixava pensar em mais nada. Ódio pelo esforço feito à toa. Ódio de ter tido que passar por aquilo tudo, pela dor extrema que eu ainda sentia, como se tivessem cravado um facão na minha coxa e eu sangrasse enquanto pulava com as muletas. As mãos castigadas pelo peso do corpo e os pulinhos... Pra nada! Ódio.
Além de me sentir inútil, pesada, paradona. Vejo as pessoas se mexendo, fazendo coisas, indo de um lado para outro apressadas, e eu ficando. Eu fico olhando. É só o que posso fazer. E pedir. Peço o dia todo para me darem as coisas, para me ajudarem a fazer as coisas, para buscarem algo de que preciso. Inútil. Me sinto uma madame idiota sentada em seu sofá esplêndido esperando os súditos lhe trazerem as coisas. E vejo meu pai cansado, sei que estou exigindo mais do que ele está acostumado em sua vida de aposentado. Sinto-me incapaz e inútil.
Dia seguinte e a coxa ainda dói. Ácido lático acumulado, como se houvesse um corte profundo na carne. Músculos das costas e peitorais, ajudante do movimento de sustentar o corpo no ar, doem demais também. Dói me mexer. Como se eu tivesse levado uma surra. Pulsos estalam a cada pequeno movimento.
Olho sem forças para as muletas que me esperam quietas, apoiadas num canto qualquer. Sinto ânsia de arrancar o maldito gesso e sair andando. Simplesmente andar. Quero andar de novo, agora! Pé ante pé, ganhando velocidade, um pé depois do outro...
Sinto raiva. Estou mau humorada. A dor ajuda na sensação ruim e imaginar que estou presa por pelo menos um mês piora tudo. Estou apenas nos primeiros dias da minha nova condição de deficiente-inútil-dependente. Presa em casa, presa na cama, presa a pequenos e cuidadosos movimentos. Dependente da família, amigos e namorado para beber água, para me servir e cozinhar comida, para preparar a minha cama, para entrar e sair de um simples banho...
Odeio. Raiva. Mau humor. Não quero rir. Não quero falar.
Queria arrancar o gesso e andar...
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sexta-feira, 25 de novembro de 2011
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Oi menina. Tava passando e acabei lendo este teu post, o que fez eu ler o anterior e entender tua situação.
ResponderExcluirSei o quanto é difícil e exatamente o que estás passando, pois também já fraturei o tornozelo, o talus, ossinho chato. Fiquei 2 50 dias com gesso, sem pisar no chão, apenas muletas. Foi difícil, foi sim, claro, mas acho que de tudo pode-se tirar boas coisas. Se ficares olhando apenas para o lado ruim, para as coisas que não dão certo, o teu mundo cada vez mais vai rodar pra esse lado. São escolhas, e essa escolha só tu pode fazer, pelo que vejo, estás escolhendop apenas reclamar, ficar brava, se sentir inútil... mas tu, e somente Tu, também pode olhar e ver que isso é passageiro, que logo estará boa e que existe pessoas que serão assim pra sempre. Todo ou quase todos passam por isso nessa vida, quebrar um osso, engessar, e nem por isso o mundo acaba. Dá risada da situação, olha o lado de que tens toda atenção do mundo, as pessoas se preocupando contigo, te audando, olha com isso é bom, sinal que tens amigos, pessoas que te amam e estão contigo.
Desculpa, não quero ser dono da verdade nem dar lição nenhuma, de forma alguma, não é essa minha intenção, apenas quero ajudar a ver as coisas por um lado melhor, que t te sinta melhor.
Melhoras ai menina, sorte, e muita auto-estima!
Beijos.
50 dias eu quis dizer, 10 dias de tala e 50 de gesso!
ResponderExcluirahhhh, tava esquecendo, tá lindo demais esse filhote de lhasa!!!!
ResponderExcluirAmigo, vc tem toda a razão. Eu estava com raiva pela manhã, quando postei no blog. Escrevo para extravasar. Não sinto isso o tempo todo não. Por isso mesmo é "moods journal" o diário do humor. ;)
ResponderExcluirConcordo que esse texto tá meio pesado, então te convido a ler outros mais leves, engraçados e até eróticos. Divirta-se! ;)