Displasia do Beni

Percebi que o cachorro mancava. Achei que não fosse nada demais. Mas ele continuava mancando, aí dei três dias de anti-inflamatório. Durante o uso ele andava melhor e eu achei que tinha resolvido. Mas ele voltou a mancar.

Chamei o veterinário por causa de mais uma das inúmeras brigas na qual o Beni sai perdendo, pra costurar o profundo furo que os belíssimos caninos do Apolo deixaram em seu peito. Aproveitei pra pedir que o vet verificasse o cachorro. Ele achou que podia ser alguma coisa mais séria e marcamos um raio X da bacia, fêmures e coluna para investigar.

Armei toda uma operação logística com ajuda da família para levar o Beni pra fazer exame. Meu marido ficou pela manhã esperando o veterinário ir busca-lo em casa e mamãe chegou às 10h para espera-lo voltar da clínica. Enquanto isso, eu roía as unhas no trabalho, ansiosa para saber como meu filho estava.

Bastou uma radiografia e o diagnóstico estava definido: displasia coxofemoral bilateral. Estágio severo. (O pior quadro dos 4 possíveis!) Sem cura.  Pelo menos a radiografia da coluna mostrava tudo normal.

  

Que diabos era isso? Pelo telefone, enchi o veterinário de perguntas. E ele respondia usando aquele linguajar médico que eu gostaria muito de entender, porém só tenho meu pobre juridiquês mesmo. Ele disse mil coisas, mas só ouvi uma realmente: meu cãozinho sentia dor contínua há muito tempo. Depois disso só ouvi: “Vamos ter que fazer uma denervação capsular percutânea bilateral nele.” Hein?! Cortar os nervos receptores de dor das duas patas traseiras?! Cirurgia. Meu cãozinho ia ter que entrar na faca!

Minhas vistas foram ficando escuras. Uma porrada enorme de culpa socou meu estômago! Um filme em retrospectiva da vida do Bebeni veio na minha cabeça e eu só sentia o peso de uma enorme culpa e pena do bicho...

Lembrei dele sempre com dificuldades pra se levantar; sempre o menos brincalhão dos cinco da matilha; nunca ficava de pé alegremente para me saudar como os outros. O Beni só levantava a cabeça e olhava curioso lá do seu canto, enquanto os demais cachorros corriam para o portão para ver o que estava acontecendo. O Beni sempre escolhia um canto e se jogava pra deitar ao invés de ir deitando lentamente, o que eu achava muito engraçado e característico dele. Ultimamente vinha mancando bastante e saltitando com uma perna traseira no ar ao invés de caminhar com as duas... Aí lembrei de um dia que eu o fiz deitar e ele gritou de dor bem alto me assustando... e só então eu percebi que tinha alguma coisa errada com ele!

E todo esse tempo, na verdade ele estava com dor! Com dor para se levantar, com dor e com a musculatura atrofiada demais para ficar de pé, com dor demais para fazer todo o movimento normal para deitar e por isso se jogava no chão ao deitar... Um horror! 

Aquela carinha de pobre coitado que ele sempre teve veio na minha cabeça e tudo que eu queria fazer era ir pra casa correndo naquela hora e tirar a dor dele. Mas não havia nada que eu pudesse fazer. Pobre filho dolorido!

 

Aquelas imagens de cães em cadeiras de roda que eu já tinha visto começaram a me assombrar e fiquei imaginando como o Beni iria se adaptar naquele troço. Caso precisasse...

Então, entrei no modo prático e comecei a colher o máximo de informações que eu pudesse. Os remédios foram comprados logo no dia seguinte e passei todo o dia útil no trabalho olhando pro relógio para ver se já estava na hora de ir pra casa e cuidar do Beni.

Displasia coxofemoral bilateral: Doença ortopédica hereditária, muito comum em raças grandes. A obesidade pode agravar a doença. Sem cura, pois trata-se do desgaste da articulação da coxa com o quadril.

Descobri que a raça pastor alemão é bastante afetada e o Beni tem 50% de genética de pastor alemão (e 50% de husky siberiano). E o Beni é gordinho. A musculatura flácida de pouco se movimentar.

Denervação capsular percutânea bilateral:  Técnica cirúrgica na qual o feixe de nervos relativos à dor na cabeça do fêmur é cortado, aliviando a dor do animal. Isso permite que eles voltem a caminhar e acabem por fortalecer a região glútea e das pernas que encontra-se atrofiada. Essa cirurgia dá uma qualidade de vida ótima para o cão! Só isso pra mim já está valendo!

Já estamos providenciando um ortopedista veterinário que tem vários casos de sucesso em cirurgias como essa. O meu veterinário de confiança disse que a recuperação é rápida e o pós-operatório bem simples, com o cão podendo andar já ao voltar pra casa da cirurgia. Volta com apenas uns pontinhos, disse ele. Bom, pontos o Beni tira de letra. Está até bem acostumado com o colar de Elizabeth, ou melhor, o “cone da vergonha” ou “abajur”, como é vulgarmente conhecido.

Descobri que vou ter que fazer fisioterapia no pós-operatório e estou até considerando comprar uma esteira barata, só pra exercitar o bicho. Vendo pelo lado bom, pode ser até que eu emagreça caminhando com ele.