sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Plena terça-feira. Dia útil. Dia de trabalho. Mas me dei ao direito de dormir um pouquinho mais. Iria chegar um pouquinho mais tarde no trabalho em nome de um descanso de mais uma horinha na cama.

Assim, atrasados, saímos eu e Marido apressados em direção ao ponto de ônibus. Mas gelei ao ver um ser que seguia apressadamente em direção à estrada. Super movimentada a estrada. Cheia de carros indo frenéticos em direção ao centro da cidade. E lá ia o ser seguindo duas mulheres que iam pra academia...

Gelei. Meu coração começou a pesar. Queria parar e pegar aquela criaturinha pra mim. Salvá-la do abandono. Mas, marido me chamou à realidade. Nós já tínhamos cinco bichos e não podemos salvar o mundo...
Segui triste, ainda preocupada com o destino do lindo filhotinho perdido no meio da rua.

Quando olhei pra baixo, lá estava ele. Nos meus pés. Lindo, pretinho, tão pequeno que ainda tinha os olhinhos embaçados. Olhos de bebê. E me seguia. Olhei pro meu marido com olhar de pena do bicho, que rapidamente ele entendeu que era daquelas minhas vontades loucas de salvar todos os cães do mundo, e me reprimiu. Seguimos.

Já ladeando a estrada movimentada caminhávamos rápido e o bichinho alegremente atrás de nós. Achei uma comida em um cantinho da calçada deixada propositalmente para cães de rua se alimentarem. Parei, peguei o filhote e o coloquei pra comer. Esperava distraí-lo enquanto eu me afastava pra pegar meu ônibus.
Mas o bicho largou imediatamente a comida quando percebeu que ia ficar sozinho... Voltou a nos seguir.

De repente saiu correndo na frente, ladeando a pista. Saltitante como uma criança feliz.E parou pra cheirar um bêbado, brincando com seus pés. Enquanto isso chegamos ao ponto de ônibus e ficamos de longe observando o cãozinho preto.

Um menino uniformizado atravessou duas pistas correndo e parou na dupla faixa amarela do centro da estrada esperando que os carros passassem pra que ele continuasse a atravessar as outras duas faixas. Estava o infeliz do menino parado no meio das pistas, entre os carros, quando o cachorrinho decidiu correr atrás dele!

Momentos de desespero! O filhote estava sozinho no meio das quatro pistas, carros e ônibus passando para todos os lados, apressados, alheios ao animalzinho bebê correndo perigo de vida, prestes a ser atropelado.

Comecei a gritar desesperadamente quanto o moleque correu atravessando as pistas restantes e deixou o filhote sozinho. O filhote começou a voltar para a calçada onde estávamos, porém, quando estava no meio da pista, vinha um carro que iria atropelá-lo em cheio e um ônibus que parecia ainda mais gigantesco quando olhávamos o bichinho desorientado no meio da estrada.

- Eu não quero ver isso! - eu gritava. Desesperada comecei a berrar quando o carro se aproximou dele. Ia ser atropelado na minha frente!!! AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH A garganta doía, mas o grito não parava.

Marido heroicamente se atirou no meio das pistas, uma mão para cima em sinal de pare e a outra já descendo em direção ao asfalto para pegar o filhotinho... O motorista do carro sem entender porque eu gritava, olhando meu pavor, decidiu freiar. O ônibus ao lado também parou.

Menos de meio metro separava o filhote e seu salvador da morte. Com o cãozinho no colo, Marido voltou pra calçada. As pessoas nos olhavam. Eu não vi ninguém. Só vi que o bichinho estava salvo!

E agora?
Nós dois atrasados e o cãozinho no colo. O que fazer?
Olhamos para a travessa de terra batida que desembocava na estrada onde estávamos.
- Vamos colocar ele nessa rua de terra!
 Pensamos que naquela pequena rua de terra passam crianças e velhinhos e moradores da região, que poderiam adotar o bichinho.

Marido saiu andando pela rua de terra e, a certa altura, a alguma distância do ponto de ônibus onde o cãozinho quase morreu, deixou o bicho no chão. Virou-se de costas para o animalzinho e deu dois passos em direção ao ponto de ônibus novamente. Mas parou. O cachorrinho já havia corrido e agora encontrava-se entre seus pés, brincando feliz.

Não adiantava... Se colocasse o bicho no chão, ele corria atrás do Marido. Fiquei eu parada no ponto de ônibus gesticulando pra ele vir logo pois nosso precioso ônibus se aproximava. E a hora passava... Ele ficou lá, parado na rua de terra, com o cachorrinho aos pés.

O ônibus chegou, parou ao meu sinal. Abriu a porta pra mim. Fiquei olhando pro motorista, olhei pro relógio, pensei nas horas de atraso pro trabalho... Mas olhei de novo Marido parado lá no meio da terra, e o filhotinho solitário grudado aos seus pés. Suspirei e fiz sinal pro ônibus seguir sem nós.

Corri pra perto de Marido. O cãozinho lambia meus pés. Peguei no colo, pensando no que fazer.
Era fêmea. Pretinha, peitinho branco. Olhinhos ainda embaçados. Muito bebê. A boquinha ainda cheirava a leite. Ficou quietinha no meu colo.

- Vamos voltar pra casa com ela, colocá-la no jardim e depois arranjamos uma família pra ela. Não podemos deixá-la aqui pra morrer. - decidi. Pensei nos outros 5 cães que moravam lá em casa e em toda a confusão que eu arrumaria com a filhote, mas não tinha outro jeito.

Quando nos virávamos para voltar pra casa, passou um senhor e, vendo a cachorrinha no nosso colo, veio perguntando:
- É de vocês?
E eu animada:
- Não! Quer?
E ele rindo:
- Ah, minha filha eu já tenho sete...
- E eu tenho cinco. Só por isso não fico com ela.
De repente ele decidiu:
- Ah, me dá. Onde comem sete, pode comer mais um. Depois acho alguém pra ficar com ela.

E assim a cadelinha arranjou uma família e nós ganhamos o dia com o salvamento!



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