Estou de dieta. Estou sempre de dieta. Ou melhor, dieta não,
reeducação alimentar é mais moderno. Pelo menos dá a ideia correta de que é pra
sempre.
Almocei o permitido pela nutricionista: legumes, verduras e míseros
100g de proteína magra. Nada de carboidratos, nada de leguminosas. Ah, saudades
do meu feijão e da batata (em qualquer formato que ela se apresente...)!
Resumindo o almoço: muita alface e um pequeno pedaço de frango grelhado.
Até aí já estou até acostumando. Como folha e mais nada sem
problemas, e realmente não sinto fome. (A tal saciedade existe!) Mas o que
ninguém tira de mim é o desejo mortal e intransferível de comer um doce depois
do almoço! “Ô disgraça”!
Então aquele desejo de comer um doce bateu e bateu forte.
(Só uma observação: doce é doce, não é fruta. Se doce fosse fruta ninguém era
gordo! Doce é igual a chocolate ou calóricas bombas, sorvetes e tal. Isso sim
tem açúcar de verdade, não fruta!) Continuando: eu queria um doce, mas tinha
que resistir. Não estava na dieta e se eu abrisse uma exceção, seria igual a
alcóolatra, não conseguiria parar.
Fui pagar o almoço a quilo no caixa e lá estava uma enorme
cesta de trufas de chocolates enormes com os mais diversos recheios. Desviei os
olhos, procurei não pensar no assunto e fingir que não via aquele bando de
enormes bombons embrulhados em papel laminado florescente, chamando minha
atenção. Saí ilesa do restaurante.
No caminho de volta ao escritório tinha uma banca de jornal.
Daquelas bancas de jornal de centro do Rio de Janeiro que tem tudo e mais
alguma coisa. E essa tinha doces! Passei por ela, já sem resistência, com olhos
pidões esticados pra dentro da banca, lendo de longe cada embalagem colorida de
doce em busca de um chocolatinho. Queria um meio amargozinho qualquer. Apenas
20 graminhas, só pra dar um gostinho. Mas não tinha. Passei direto.
Frustrada, não encontrei
mais nenhum camelô de doces no caminho e entrei no prédio correndo pra
comer minha porção de fruta seca como sobremesa: um figo (sem calda!)
desidratado. Nooooosssssa! Que delícia. Docinho, né? Pelo menos escapei das
calorias. Estou trancada no prédio e não há mais perigosos chocolates pra satisfazer
minha gula.
Mas o desejo mortal do chocolate não me abandonava. Resolvi
ir arrumar a caixa de mudança de um colega de trabalho para distrair. (O prédio
todo do trabalho vai se mudar na semana que vem e esse colega trabalha sempre
externo, por isso eu me encarreguei de empacotar pra ele.) Colocando as coisas
do cara na caixa, achei dois pequenos chocolates em barra largados na gaveta
dele sabe-se lá há quanto tempo. Aí começou meu conflito...
Eu não podia comer os chocolates porque não eram meus. Isso era
errado – dizia o anjinho do meu ombro. Por outro lado, o dono deles jamais
estava no escritório e possivelmente nem se lembrava de ter deixado dois
chocolates abandonados em sua gaveta – dizia o diabinho do outro ombro. Decidi
pelo correto e selei a caixa do colega com os chocolates dentro em meio a
canetas, papéis, pasta de dente, elásticos, e várias tralhas de escritório.
Voltei pra minha mesa. O pensamento nos chocolates. Tão
próximos de mim... mas tão distantes. Ai que vontade... “Esquece isso, Clarice!
Você não pode ingerir essas calorias! Hummm, mas que vontade... Só um
chocolatinho. Esses são baratinhos, depois você compra outros pra ele. Ninguém
vai saber...”
Minha mente não parava...
Três horas da tarde. Hora do lanchinho. Devia comer uma
fruta e/ou uma colher de granola light opcional. Mas eu ainda pensava no diabo
do chocolate!
“Ah, que se dane!” – pensei, e levantei da minha mesa voando
como uma flecha direto na caixa de mudança do colega de trabalho. Olhei as
fitas adesivas que a selavam e ainda pensei em não fazer, mas a essa altura já
estava doida de vontade e sabia que nada me impediria! Enquanto descolava as
barulhentas fitas adesivas da caixa de papelão falei alto comigo mesma “Não
acredito que eu estou fazendo isso!”
Finalmente abri! As mãos rápidas procuravam em meio à zona
dos materiais de escritório do sujeito o tal chocolatinho. Achei um! “Só um”,
pensei. Satisfeita, fechei a caixa com novas fitas adesivas e voltei pra minha
mesa sorrindo, vitoriosa, com o chocolatinho.
Saboreei-o com uma alegria inenarrável! O furto tinha valido
a pena! Depois eu compraria outro novo para o cara. Sem problema. Custa menos
de R$ 2,00. Continuei trabalhando...
Porém, o efeito alcóolatra se instalou em mim... Sentia uma
urgência, uma necessidade, um desejo horrendos de comer o outro chocolate! Era
agora praticamente impossível resistir. Eu tentava digitar algum email, porém
meu cérebro só conseguia se concentrar no sabor do chocolate engolido que ainda
estava em minha boca e pensava “tem mais de onde esse veio...” Parecia um eco
fantasmagórico na minha cabeça, mas eu ouvia claramente o cérebro independente
e autônomo, destacado da minha consciência dizer “pega o outro... pega o outro... o outro... mais um...”
E tive que ir até a caixa de novo. Violei novamente as fitas
adesivas e baguncei todo o material dentro da caixa procurando o outro chocolate.
Bateu um desespero quando achei que não o encontraria ou que alguém poderia
questionar o que eu estava fazendo ali, mexendo nas coisas alheias, mas acabei
encontrando o delicioso pedaço de pecado! Ufa!
Antes mesmo de terminar de fechar a caixa eu já tinha aberto
o chocolate número dois e já o saboreava sofregamente. Nossa que pecado bom!
Peco e peco de novo mil vezes! Chocolate! Valeu a pena cada risco!
No final do dia me peguei rindo de mim mesma, do ridículo
que foi o meu surto em busca de uns pedacinhos de chocolate! Meu marido
certamente me reprovaria... KKKK
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