Menininha

Impressionante como a vida dá voltas. Num dia eu via o arco-íris, no outro as nuvens negras me cercavam e o prenúncio era de uma terrível tempestade. A gente nunca sabe...

Sempre me dizem que sou corajosa, forte e guerreira. Muitas pessoas me admiram por isso, e não cansam de me dizer. Eu até concordo de um certo modo, mas no fundo, sinto que sou uma menininha. Mas não conto pra ninguém. É meu segredo.

O meu arco-íris sumiu de repente e as coisas foram ficando cinzentas, e eu, acreditando que eu ia passar por aquilo sozinha. Sem problemas. Mas as nuvens se agigantavam, trazendo dor, incapacidade, dependência... então eu comecei a fraquejar. Mas ainda tentando fazer as coisas sozinha, não importava o quanto fosse doloroso ou difícil. Não queria incomodar as pessoas.

Aí a tempestade desceu toda! Em cima de mim! Os raios desciam queimando, os ventos me empurravam na direção contrária e eu não conseguia andar. Tudo era difícil demais. E eu me segurei como pude, sofrendo, irritadiça, com a sensação de impotência.

Passei a fazer biquinho, como uma criança teimosa. Não queria dar o braço a torcer. "Não! Eu sou tão forte, sempre fiz tudo com independência... como posso não estar conseguindo agora?!"
Mas fui lutando, com um pouco de ajuda e muito esforço, fui vencendo os obstáculos. Mas o esforço ainda era muito grande, e eu estava fraca, mas queria voltar a depender de só de mim mesma logo.

E a cada momento que eu poderia pedir ajuda e não pedia, era uma queda. E a cada queda, era uma decepção interior. Alguma coisa se quebrava dentro de mim. E eu não admitia precisar de ajuda. Eu seria a primeira a ajudar qualquer pessoa que passasse pela tempestade que estou passando, mas me custa aceitar que eu posso ser ajudada. Não é que eu não goste. Só não estou acostumada a pedir. 

Não sei bem o que é esse sentimento. Minha psicóloga uma vez me perguntou se eu era orgulhosa. Não, não sou. Não me vejo assim. Depois ela chegou à conclusão que eu era suicida, que me lançava de corpo e alma a todos os desafios, não me preocupando em proteger a mim mesma... Isso parece mais comigo. Sim, sou assim. E depois, em algum momento, ela concluiu que era meu lado infantil...

Como uma criança que faz o que quer não gosta de ser contrariada, eu neguei. Depois, consciente e racional como sou, resolvi olhar de novo para essa afirmação. Afinal, eu estava na terapia para me ajudar. Infantil...

Olhei pra mim mesma e estava de biquinho feito, com olhos rasos d'água, derrotada. Braços cruzados no peito, cabeça baixa, raivosa por não estar conseguindo passar pela tempestade sozinha. O sentimento de ter sido descoberta pelos adultos, de ter seus planos boicotados, me preenchia completamente. E eu queria e encolher na posição fetal e ser acarinhada pelo meu pai e beijada pela minha mãe. Queria que eles pegassem minha mão, dissessem que está tudo bem e que eles vão resolver tudo pra mim. Que a tempestade vai passar.

É isso. Sou uma criança e admito que nem sempre posso enfrentar tudo sozinha. E nem deveria. As pessoas que me amam estão aí pra mim, basta estender a mão. Eu não deveria espernear tanto antes de querer ficar pequenininha no colo da minha família. Devia pedir arrego mais vezes ao invés de lutar como uma amazona... e de voltar frustrada com o fracasso.

Eu sempre soube que tenho uma rede familiar forte e amorosa. Não tenho com o quê me preocupar. Quando eu acho que o mundo está perdido e o armagedom se abaterá sobre mim em breve, sei que posso olhar pro lado e ver minha família. Eles não me deixam perdida e sozinha pelas tormentas. Nunca me deixaram...

E a verdade é que esses dias eu disse ao meu namorado:

"Queria voltar a ser criança... Queria ficar encolhidinha em casa e saber que meus pais vão me salvar... Mas não dá, né? Parte de "ser adulto" é que as coisas dependem de você mesmo, nem sempre se resolvem sem que você aja... Mas ia ser bom voltar a ser criança..."

Admitir é evoluir.
Obrigada, família!