Sim, é fácil. Muito mais fácil do que imaginei.
Nos primeiros dias há aquele desconforto, aquela sensação de que o mundo não pode parar e que você tem que continuar na roda vida, que não pode ficar pra trás. Há aquele desespero de "e agora?" e passo a pensar em tudo que está inacabado e que precisa de mim... e que eu não posso deixar de ir, de fazer, de estar, de praticar...
Mas o tempo passa. Dizem que ele tudo cura, tudo assenta. Verdade irrefutável. E o tempo tira de mim aquele aquela angústia. Já que não posso fazer nada a respeito, remediado está. Não é uma opção: eu teria que sair da roda viva. Ordens médicas.
No início, a cabeça inquieta e no ritmo "trabalho-academia-faculdade-cachorros-trabalho"... No início, inquietação com a sobra do tempo. Meus horários antes tão apertados, verdadeiramente sincronizados, cada compromisso mais imperdível do que o anterior, e pouco tempo livre para fazer o que eu quisesse.
Depois, meses livres. Meses! Incrível, mas já estou em casa há quase dois meses. Sinto que o ritmo é outro. Estou fora da roda viva, da roda da vida, daquela correria Niterói-centro do RJ-Niterói. E, no fundo, sinto um prazer enorme. É alívio o que sinto. A roda viva me consome, precisava parar. A parada foi forçada, mas não foi de todo ruim, a não ser a lesão e a falta de grana.
Confesso um certo prazer disfarçado pelas preocupações que volta e meia me assombram. Hoje sonhei que levei uma bronca feia do chefe. Era um chefe, um trabalho, não necessariamente o meu. E já me preocupo com o reinício das aulas na faculdade, pensando se poderei ir. E penso no desagradável trajeto da minha casa até o trabalho; longas 3 horas de engarrafamentos e medo todos os dias.
Em casa dá tempo de olhar pela janela e ver o dia mudar de cor até a noite cobrir o céu.
Em casa dá tempo de ficar olhando os meus cães, abraçando e rindo das suas brincadeiras. Dá tempo pra dar banho e pegar sol com eles.
Em casa dá tempo de montar quebra-cabeças, e gastar ali horas e horas olhando pr'aquelas pecinhas, sem preocupação alguma.
Em casa dá tempo de assistir a quantos filmes e séries eu quiser... pausar, e dormir no meio... depois continuar. Cochilar à tarde!
Em casa dá tempo de brincar com fotos antigas e de família no Photoshop, tempo de rever o tempo da minha vida e a história da família... dá tempo de visitar a infância de meus cães.
Delícia.
Conforto, sossego, falta de compromisso, falta de ordem.
Certo tédio também. Sinto falta da academia, levantando pesos e me superando todos os dias. Outra confissão é que a atividade laborativa faz falta. A gente também se acostuma. OK, arrumei o que fazer: tradução. Sem ter que sair de casa, e sem horários fixos, tiro um dinheirinho e produzo alguma coisa pra sociedade capitalista. E me distraio, aprendo. Ainda há tempo de sobra pra mim mesma.
Mas é fácil se acostumar...
Meses em casa. Meses fazendo o que me dá na telha (consideradas as minhas limitações de ir e vir). Apesar do pé quebrado e da mesmice, ficar em casa é seguro, é agradável, as pessoas vêm e vão, conforto da minha cama grande e do ar condicionado, a beleza das flores do jardim e o cheiro das chuvas do verão (sem engarrafamentos e alagamentos).
Agora, ao final da licença médica volto a pensar no trabalho e nas atividades do dia-a-dia. Bate uma insegurança, um medo, uma vontade de não voltar, de ficar onde estou, fazendo o que quero. O dia-a-dia na roda viva é uma sequência de "não quero, mas tenho". Obrigações. Havia até esquecido tal palavra. Não quero!
Penso em todo aquele esforço do meu dia de trabalho, de sair correndo pra academia, de depois correr ainda mais pra chegar na faculdade e assistir aula ainda suando, a bolsa cheia de roupa úmida de suor e toalha molhada; de tirar o Código legal da pasta e rapidamente me situar na matéria que o professor começa a cuspir lá no quadro e anotar tudo que puder; de olhar no relógio e controlar a hora do ônibus sair do ponto final, às 20:40h e sair correndo de novo para não perdê-lo, e entrar rezando, mesmo sem saber, pra que nenhum outro bandido sequestre o ônibus de novo... Dormir 5 horas por noite e começar tudo de novo no dia seguinte.
Penso na minha vida de final de semana, e na tristeza de saber que o dia seguinte é segunda-feira de novo. Esgotada... Esperando um feriado ou as férias da faculdade para ter menos uma atividade. É duro. A recompensa está longe...
Não queria ir. Queria ficar em casa. Mas... a vida não é feita apenas das coisas que QUEREMOS. Há muitas coisas que TEMOS que fazer. OBRIGAÇÕES.
A única parte que me consola nisso tudo é que vou me acostumar de novo.
No início aquela preguiça, indignação, arrastar de corpo, mente preguiçosa... No início, aquela agonia de ter que correr para recuperar todo o tempo que "perdi" quando estava me recuperando do acidente. Ter que correr pra recuperar o tempo que "usei" fazendo o que queria...
Mas eu me acostumo. É fácil se acostumar.
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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
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Estarei sentindo um aroma (ainda que distante)de paz interior pairando no ar? Só o tempo dirá... Aguardemos os próximos capítulos.
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