quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Um colega de trabalho me trouxe um bombom de cupuaçu.Um bombom daqueles naturais, comprado em casa de produtos naturais  junto com castanhas, frutas, etc. E assim chegou à minha mesa uma lagartinha.

Era daquelas lagartinhas pequenas, menos de 1 cm, verdinhas, sem graça, sem antenas, sem pelos, pintas nem manchas. Apenas uma lagartinha, como aquelas da goiaba, porém verde.



Ela caiu da embalagem do bombom e ficou meio desnorteada sobre a minha mesa de trabalho de fórmica branca. Fiquei imaginando o desespero da lagartinha sem entender aquele meio ambiente refrigerado, sem chuvas, acarpetado e principalmente sem folhas.

É claro que, nos segundos que passou explorando o ambiente na minha mesa de trabalho, a lagarta não se deu conta disso tudo. E também não podia prever que morreria de fome. Mas eu pude. E não pude deixar de pensar na agonia da fome que a lagartinha iria ter que passar por dias a fio, até a morte.

Afinal de contas era uma vida. A lagarta não tinha culpa de ter sido tirada de seu habitat natural e trazida pra um inóspito escritório, sem nenhuma chance de sobrevivência, nenhum alimento, nem sol.

Achei bizarro simplesmente deixar a bichinha morrer aos poucos. Não me senti no direito de matar o animalzinho só porque ele não pertence a esse meio ambiente terrível (que, por sinal, eu também detesto!). Ambas preferimos a Natureza. Então fui agir.


Comecei a procurar por plantas, janelas, jardineiras, qualquer meio ambiente natural no escritório, mas percebi que trabalho vedada (janelas lacradas) e é proibido ter vasos de plantas, por motivos de segurança e limpeza do ambiente (ou pelo menos é isso que pregam as normas corporativas). Assim, tive que sair do prédio...

No caminho a lagartinha caiu no carpete na entrada dos banheiros, no corredor. Pânico total! A bichinha de tão pequena, podia se perder no carpete pra sempre (ou até a morte) ou ser pisoteada e morrer instantaneamente. Agachei e a localizei. Ufa, que alívio, coloquei a lagartinha de volta no papel.

As outras pessoas do trabalho riram de mim, sugeriram que eu desse descarga na lagarta. Por quê? A troco de quê eu mataria um animal? Ele não me fez nada, só quer seguir sua vidinha. Eu não tenho o direito de destruir uma vida só porque ela é considerada menor, inferior, não importante, para o mundo capitalista corporativo. É uma vida e eu respeito a vida. Coloquei-me no lugar dela e pensei: "não gostaria que me matassem só porque estou fora do meu habitat natural caso eu me encontrasse em uma favela algum dia. Só quero seguir com a minha vidinha.".

E assim foi. Desci de elevador, passei meu crachá na portaria e saí do prédio para a movimentada rua do centro do Rio. As pessoas só enxergavam um papel na minha mão, mas não sabiam da vida que ele transportava.

Encontrei uma pequena árvore plantada num pequeno espaço na calçada, com folhas, terra e sol. O paraíso pra lagartinha! Quem sabe ela não vira uma borboleta agora? Deixei-a ali e voltei feliz pro escritório.




Neste momento me sinto realizada por ter respeitado uma vida, sem julgar sua importância a meus olhos. Não sei se ela vai viver bem, pois não entendo de lagartas e não sei de que tipo de folhas ela vive. Mas tenho certeza de que ela será mais feliz fora desse escritório... como eu seria. 
Ah, se eu pudesse...


1 comentários:

  1. Adorei tua história. Você não está só. Penso e faria da mesma forma! Parabéns!

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