quarta-feira, 16 de maio de 2012

Não podem dizer que não sou uma namorada exemplar, companheira, guerreira... É, porque só sendo guerreira mesmo pra sair do Castelo e andar, na hora do almoço, até o Saara, quase  no Campo de Santana, só pra acompanhar o namorado na escolha de um tecido novo pro sofá da sala dele!

Sapatilhas a postos e roupa simples pra andar pelas esburacadas e perigosas ruas do centro do Rio de Janeiro, lá ia eu desviando das centenas de pessoas que invadem as ruelas do centro, em direção ao maior aglomerado de comércio popular que já vi.
 

Como se eu fosse um divertido experimento, o namorado ria ao perceber minha não-familiariedade com aquele ambiente colorido, cheio de ambulantes, odores (nem sempre dos mais agradáveis) e gente, gente pra todo lado. Gente com sacola, gente vendendo, gente olhando as lojinhas grudadas umas nas outras... Gente demais! E olha que nem é Natal nem outra ocasião especial! Ainda bem!

Ele me arrastava pela mão e ia tomando cuidado pra evitar que eu me estressasse demais com aquele lugar onde eu me sentia um verdadeiro peixe fora d'água. E isso se via na minha cara! E eu ia meio impressionada (aquele lugar sempre me impressiona) com a quantidade de bugingangas que as pessoas se dispõem a comprar e as muitas poças de esgoto das quais precisava desviar.



Um horror! Os alto-falantes anunciando dezenas de coisas, cada qual em sua lojinha gritando qualquer coisa ao mesmo tempo em que outras tantas gritavam também. Impossível de decifrar as promoções e chamados que tentavam fazer. Guerra de microfones. A decoração horrorosa e semi-destruída do carnaval ainda pode ser vista cobrindo as ruas, tentando dar a elas alguma homogeneidade.



De homogêneo aquela região não tem nada. Vende-se de calcinhas, até bizarros vestidos para gordinhas, meias de má qualidade penduradas para fora das lojas, artigos de festa embolados com brinquedos, plumas e paetês, bijuterias de gosto duvidoso, lâmpadas, puxadores de armário, quadros e tudo mais que se puder imaginar. As ruelas apertadas são frequentadas também por carros e burros sem rabo com pesadas caixas ou galões de água. Os puxadores de burro sem rabo vêm gritando "olha a frente, aê" e atropelando quem ficar no caminho.



E as pessoas se esbarram o tempo todo. Isso em contar quando um grupo de pessoas (parece que todo mundo vai em bando pra'quele lugar!) simplesmente resolve parar na sua frente, fechando toda e qualquer possibilidade de passagem ao longo da rua. Ai que irritação!



Aí, no meio de tudo isso, fomos a um restaurante "sírio e libanês". Assim que entrei, um cheiro de desinfetante barato invadiu minhas narinas. Olhei em volta e reparei na decoração pintada pelas paredes que mostrava cenas de camponeses com cabritos ou carregando cestas na cabeça e quadros com diversos prêmios e reportagens de jornal antigas sobre o restaurante e seu dono, que deve ser sírio, ou quem sabe libanês. Não que eu sabia a diferença...

Sentei em uma das mesinhas e percebi a agradável música "árabe" baixinha, um fundo musical temático. Após pouca espera, nosso simpático garçom trouxe uma comida gostosa, para a minha surpresa. Acho que isso compensou as micro mesas no restaurante apertado e  simples, de paredes rachadas e caro. Afinal, com boa vontade, pode-se apreciar o Sírio e Libanês como um daqueles lugares tradicionais do Rio de Janeiro. (Com a vantagem de ter garçons simpáticos, o que não é tradicional do Rio!)



Já mais ambientada ao Saara, compramos o tal tecido para o sofá dele e acabei entrando em algumas daquelas lojinhas cheias de bugingangas só pra ver uma tralha ou outra.Nem pensar em comprar nada. A muvuca ainda me aterrorizava, mas eu ia de mãos dadas pra não me perder na multidão. Mas  acabei no lucro, pois o namorado resolveu me enfiar em uma loja enorme e apinhada de informação visual onde encontrei finalmente a garrafinha tipo squeeze para fazer meu shake que eu tanto queria!

Depois saí correndo do Saara com uma última recomendação do namorado que ainda se divertia com a minha cara quando chegamos na Rua Uruguaiana:

- Pronto, desce a rua e você já vai estar na Av. Rio Branco. A civilização começa ali...

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