Reclamando do sofrimento

Cérebro em turbilhão. Várias emoções. Preocupações. Queria que me esquecessem, ficar quietinha aqui. Queria que não me dissessem "tchau, até amanhã" nem "boa tarde". Essas formalidades me cansam. Queria que não me ligassem nem me mandassem e-mail. Queria que parassem de falar ao meu redor. Silêncio! Queria não ter que falar com ninguém agora. Simplesmente me esqueçam! Queria ouvir o silêncio.

Agora estou estranha. Acho que é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Ando cansada. Faltei faculdade ontem para descansar, dormir cedo, mas o cérebro despertou hoje às 5h da manhã. Ainda estou cansada. Só de pensar no circuito dessa semana na academia, fico cansada. Desisti de ir hoje. Fugi ontem. Lembrar do esforço me cansa. Meus braços andam doloridos, no quadril sinto uma dor aguda, o tornozelo quebrado anda enjoado esses dias. Como eu.

Paro para ler um jornal online. Notícias de crimes terríveis perto da minha casa. Estou apavorada. Só aumentou minha sensação de medo, que se soma ao meu trauma de ter sido sequestrada no ônibus numa dessas longas voltas pra casa à noite. Suo frio cada vez que subo num ônibus pra voltar pra casa depois do trabalho. Sofrimento. Sofrimento diário. Pavor diário.

Minha mente procura todos os dias desculpas para não vir trabalhar. E quando estou no trabalho, final de tarde, me flagro buscando desculpas para faltar a aula e ir para casa mais cedo, quando ainda é dia e as ruas estão cheias. Medo e insegurança. Cansaço.

As disciplinas na faculdade se acumulam e eu não tenho tempo para estudar o que devia. Vivo de leitura dinâmica. Infelizmente as provas que farei semana que vem cobram questões complexas, tiradas de concursos de magistratura federal, promotoria, OAB, e leitura dinâmica é o mesmo que nada. Sinto-me incompetente, atrasada. Parece que não me esforço o suficiente.Dedicarei mais uma vez todo o meu final de semana aos livros e anotações do caderno, mas sei que ainda não será suficiente. Já estou cansada só de pensar.

Planejo faltar ao trabalho um dia da semana que vem. Para descansar? Quem me dera! Vou é estudar, completar aquilo que com certeza não serei capaz de dar conta no fim de semana. Muita informação.

Pouco tempo para estudar. 

Pouco tempo para lazer. 

Tempo demais em um trabalho não gratificante... 

Isso me cansa.

Sim, vim só espairecer aqui. Reclamar. Já que dizem que sou reclamona, estou aqui exercendo meu direito de reclamar de tudo. Já me disseram hoje para pensar que o que vivo atualmente são minhas escolhas, que eu devia parar de sofrer pelo que eu não posso ter agora. E sabe o que eu mais queria ter? TEMPO. Só isso. Sofro porque o meu tempo não é meu. 

É desesperador sentir meu corpo pedindo para dormir mais um pouco e só poder dar a ele míseras 5h de sono.
É horroroso sentir meu corpo ansioso, suando, cheio de adrenalina do medo e só poder torcer para não ser assaltada, morta ou coisa pior todos os dias.
É agoniante querer atuar na área que escolhi como profissão, querer aplicar o conteúdo recentemente adquirido, e ter que continuar trabalhando com algo que não me interessa só por causa do dinheiro.
É triste querer viver experiências novas, interessantes e desafiadoras e ter que repetir todos os dias a  mesma rotina monótona e corrida. Obrigatória.

Vim aqui para saber se tenho saída. Estou tentando pensar em uma solução pois sei (sim, eu sei) que reclamar só não adianta nada. Isso me dizem desde pequenina. Mas não vejo solução no momento.

Acho que tenho que aceitar que trabalho no que não gosto para pagar as contas, que convivo com a violência porque moro no Rio, que durmo pouco porque escolhi fazer faculdade e academia depois do trabalho e que não posso viver coisas legais durante a maior parte do meu tempo de vida porque assim é o capitalismo...

Resliência.

Como se faz isso?

Continuo cansada e sofrendo.

OBS: Acho que vou comprar um chocolate. Preciso de energia...