quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sapatilhas nos pés, mochila nas costas, short de lycra por baixo do vestido soltinho prevenida do vento que poderia me escolher pra Marilyn Monroe. Cabelos ao natural, sem tinturas ou alisamentos da moda, porém sem deixar de realçar os olhos com uma maquiagem simples e proteger a pele do rosto com hidratante e protetor solar recomendado pela dermatologista. Essa sou a nova eu. 


- Você está mais despojada! - observou minha mãe um dia desses. E eu parei pra me olhar: ela tinha razão. Gostei da sensação.

Comecei pelos motivos errados, mas acabou dando certo.
Não uso mais os meus belos saltos altos, vestidos justos e decotados e bolsas enormes e pesadas de outrora. Não sou mais escrava do maldito alisamento de cabelos que deixa todas as mulheres com a mesma cara. Não ao desconforto! Não à beleza a custa de sofrimento! Não à ditadura da beleza-padrão!



Os motivos:

* Quebrei o pé e fui obrigada a descer dos saltos. Assim, acabei descobrindo as sapatilhas, que não são nada lindas (continuo amando os saltos), mas são práticas, seguras e confortáveis.



* Engordei até 110 kg e passei a usar roupas mais largas para disfarçar (ou eram as que cabiam). Estou emagrecendo, mas acabei me acostumando com o conforto e a praticidade de roupas que me deixam à vontade, sem me preocupar em andar puxando a saia pra baixo ou a blusa pra cima fechando um decote que estava demais.

* Ouvi amigos e troquei a bela bolsa enorme e pesada de um ombro só pela espaçosa e confortável mochila, que vive cheia. A horrorosa mochila não tem o glamour da minha mega bolsa pink, por exemplo, mas cabe Códigos de Direito, caderno da faculdade, toalha da academia, roupas pra malhar, protetor solar, lanchinhos diet, comidinhas light de emergência e mais um bando de tralhas que as mulheres carregam, sem me torturar os ombros e as mãos como era com as bolsas fashion.



Um episódio:

Hoje, voltando pra casa na estação do catamarã, sentei ao lado de uma moça enquanto aguardava a embarcação. Longas pernas cruzadas que saíam de um curto vestido preto e justo, enormes saltos-agulha, cabelos perfeitamente lisos e loiros, enormes unhas postiças pintadas de vermelho. Pose de rainha. Era a sensação da estação do catamarã. Embora fingisse se distrair com o celular, obviamente ela (e eu) percebíamos o olhar dos homens, de TODOS os homens que passavam por nós. Bonita a moça, eu também achei, mas não a invejei. Ela está no seu tempo, ainda é jovenzinha e por isso cobrada pela sociedade para ser daquele jeito.



E eu era livre! Nada de sofrer injetando gás carbônico dolorosamente sob a pele para acabar com a celulite com carboxiterapias, ou perder as férias cortando o corpo e sendo obrigada a usar uma cinta apertada por meses com as abdomnoplastias, ou correr risco de vida em cirurgias bariátricas ou de implantação de silicone e lipoaspiração. Nada de passar horas no cabeleireiro para ter os fios retos e lisos que meus pais não me deram, nem sofrer passando fome ou tomar remédios do Doutor Caveirinha que desregulam o sistema nervoso central só para perder uns quilinhos rapidamente. Eu não preciso de nada disso! Ah, liberdade!

Me invadiu uma fabulosa sensação de liberdade por ter me tornado mais "despojada". Sorri por dentro, feliz no meu confortável e seguro vestido, que não exibia nada demais, que não me deixava preocupada, que não me fazia "presa" dos homens, sabendo que eu caminharia no conforto de minhas sapatilhas com segurança também até o barco que atracava, sem medo de cair, torcer o pé ou quebrar o tornozelo outra vez. Suspirei aliviada por não ter mais que "concorrer" com ela.

É, essa concorrência maluca das mulheres com outras mulheres e elas mesmas, cegamente impulsionadas pela mídia e pela sociedade machista e exigente comandada pela moda das magrelas. Fiquei feliz por sentir que eu não preciso ser linda como aquela moça, nem ser magra como ela, me vestir como ela, ter cabelos lisos como os dela... E lembrei que antes pensamentos assim me assaltavam e me faziam sentir a última das mulheres. Só porque não tinha a beleza padrão. Aff!

É maravilhoso pensar que eu não participo mais do mundo dela. O meu tempo já passara, quase 35 agora. Eu me tornei mais senhora de mim, mais tranquila em relação a quem sou, me importando menos com o que os outros acham da minha aparência. Quero é conforto e praticidade pra levar a vida corrida que levo.

E pela primeira vez percebi que me sentia livre! A prisão que me atormentou a vida toda não faz mais sentido pra mim. Achei a chave que eu mesma tinha em algum lugar, me soltei e agora sou livre!

Talvez tenha sido a maturidade dos quase 35 anos de idade, com os primeiros sinais do envelhecimento ficando evidentes, que veio para me mostrar que "o tempo é implacável" (nas palavras sábias do meu pai).

Talvez a certeza de ter um relacionamento estável, com um homem maduro, seguro e que me ama do jeito que sou, com todas as curvas do meu corpo e do meu cérebro, com todo e qualquer defeitinho que eu possa achar em mim mesma (e nós mulheres sempre achamos).

Ou talvez a liberdade tenha vindo com a opção pela vida saudável (nutrição + exercício físico) que eu adotei há alguns meses, trocando a obsessão por emagrecer para ficar bonita, pela alegria de emagrecer aos poucos me sentindo saudável.

Somando tudo, suspirei pela alegria de não ter mais que competir. Não sou mais mocinha, não tenho a obrigação social de ser loura-linda-e-magra. Posso ser quem eu quiser, do jeito que eu quiser, e ter certeza de estar compartilhando minha alegria e meu ser com pessoas que me aceitam como sou!

E viva o tempo e a experiência de vida!
E viva as novas percepções!
E viva as mutações do eu!


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