sábado, 6 de março de 2010


Sem sentido. Nada fazia sentido agora. Não depois dele...
Era como se houvesse um nada onde antes ficava o coração. Estava decidido que ela iria para um lugar melhor, as malas prontas, caminho traçado, e ainda não parecia real. Será mesmo que ela queria ir? Certamente não. Mas sabia que precisava sair daquele lugar. Ali não havia futuro para ela... para eles... O lobo se fora. Também não era mais o mesmo. E não adiantava perseguir resquícios de velhos momentos... Seria uma insistência burra. Então seguiu seu caminho, como diversas vezes já fizera na vida.

Simplesmente respondendo à uma provocação. Mecanicamente reagindo. Automaticamente indo para outros braços. Não sentia nada, não queria nada. Só lembrava de ter sido bom em algum momento e achava que poderia fazer-lhe algum bem.
Queria também se testar. Talvez não fosse tão ruim. Quem sabe até conseguisse desfrutar daquele novo velho momento... Quem sabe? Iria tentar...

Entrou na toca. Intacta. Intocada. Independente. Era confortável estar com ele. Só confortável. Nada demais, afinal de contas só amigos. Risos e conversas em vão. Aproximação. Toque. E nada. Nem um arrepio, nem uma descarga elétrica. Só o jogo tradicional, como numa cena decorada que ela sabia bem de cor. Sem emoções, sem graça.

Ouviu ao longe o uivado do lobo. Ferido. Sangrando. Aquilo a perturbou. Como poderia ele ainda estar tão perto dela? Não deveria estar ouvindo nada. O lobo se fora há tempos, não poderia estar ainda rondando. Incrível! Perto... ele ainda estava perto...

De repente braços de borracha a enlaçaram com vigor. Ela voltou sua atenção para o que ocorria na toca, ali, naquele momento, desviando seus pensamentos da floresta distante e nebulosa onde o lobo estava à espreita. Mãos fortes, abraço carinhoso, lábios que buscavam os dela com saudosa excitação. Ela finalmente correspondeu, entregou-se ao jogo. Estava ali com ele.



Seu corpo esforçava-se nos movimentos de sedução. Uma gota de suor escorreu, espessa, bem no meio de suas costas, descendo lentamente... Sensual, mas não provocava choques. Seus braços agarravam uma pele clara e lisa, sem muitos pelos, corpo esbelto... onde antes houvera o peso do Adamantium, os pelos do lobo, e a deliciosa massa de homem que a cobria inteira... Sua mente não encontrava sentido. Mas ela teimava. Tiraria dali algum proveito. "Concentre-se... Mas o lobo..."

Os lábios de borracha molhados encontraram o sensível pescoço dela, enquanto braços elásticos davam voltas prendendo-a ao seu esguio corpo com firmeza. Ela não tentaria escapar. Estava no jogo. O suor já brotava ardente em suas costas e escorria por sua pele fina e delicada. Ele murmurava palavras de desejo ao ouvido e ela gemia. Ele enrroscava-se todo no corpo dela, como uma jibóia brincando com um bichinho.

Ali ela não era presa. Não era refém. E não dançava.
Ali ela só estava.

Ela virou de costas para ele mantendo-se colada à pele masculina, mexendo-se também como uma cobra e sentindo-se molhar. O calor das mãos dele dançando pelo seu corpo a aquecia e enlouquecia.
Um uivo distante... A dança do olhar esverdeado... Os pelos arrastando por sua nuca, a perfeita boca grossa mordendo sua pele de fêmea... A pele morena coberta de pelos arrepiados pelo contato íntimo... Não, não. Não!!! Não era o lobo...
Baixou os olhos olhando para si e viu quando as mãos brancas dele agarraram seus seios volumosos. Dedos longos, brancos, elásticos... compridos dedos brincavam com os mamilos suados trazendo-a de volta ao jogo.

O Homem Elástico usou seu corpo alto e seus braços envolventes para lançá-la na cama. Avidamente e sem provocações deslizou para cima dela, para dentro dela... Ela cedeu. Decidida a divertir-se, aproveitou a situação para sentir-se completar. Ele a preencheu completamente, como só ele fazia. Ele tinha o formato perfeito, um encaixe perfeito. Possuía a capacidade de ocupar todo o espaço e parecia esticar elasticamente... Infinitamente... Seu feminino corpo cheio de curvas estremecia maravilhado a cada investida dele. Ele crescia dentro dela. Ela suava deliciada. Molhada. Cheia.

Tapas sem som e arranhões sem marcas. Ela sentia falta dele. Enquanto cavalgava freneticamente sem rumo, perdida com seu Homem Elástico, encontrava sempre em sua mente o caminho de volta ao lobo. Sentia seu cheiro. Buscava-o na noite. E voltava com esforço, olhando para baixo e notando seu cavalo branco... Cavalgava-o imediatamente em outra direção, afastando-se do habitat do lobo que poria em risco seu jogo.

Depois de tudo, cansada, ela deitou ao seu lado. Os longos braços de borracha a envolveram imediatamente. O carinho a confortava. Ele alisou seu rosto. Beijou seus doces lábios de mulher saciada e fechou os olhos agarrando-se ao macio corpo dela. Ela o exauria e ele ficava feliz. Ele a satisfazia... e ela pensava no outro.

Ficou imóvel por uns momentos, ouvindo a respiração ofegante dele... Queria ouvir o rosnar do lobo.
O magro corpo leitoso não a cobria nem a esquentava como o gigantesco lobo, com seus pelos, seu peso, suas patas, garras... e sua energia.
O lobo estava ali. O lobo estava nela e não adiantava buscar abrigo em outro peito.
Não havia pegada que substituísse o fincar de garras do Wolverine.
Não havia sensações que fossem equivalentes ao animalesco jogo do Wolverine, seguidos dos olhinhos carentes de quando ele se tornava apenas um cachorrinho entregue aos carinhos dela.



Refletiu sozinha sobre o reflexo. O espelho mostrava corpos que não combinavam. Ela não estava completa. Seus carinhos não pertenciam àquele outro homem. Não eram aqueles lábios que ela desejava. Não era o corpo dele que ela abraçava...
Fechou os olhos e se deixou levar pelos devaneios, cansada demais para resistir. No escuro de suas pálpebras fechadas vivia o lobo. Dentro dela. Com ela. Dominando-a completamente. E nesse escuro lugar que era só seu, ela revivia detalhes da outra história, sentia seu coração acelerar com os pensamentos no lobo. Ali, no escuro, ela acariciava seus pelos, sua pele morena e dizia baixinho que cuidaria dele...

Ela não estava pronta para deixá-lo. Seguiria tentando, mas agora sabia que deveria seguir só. As comparações só trariam de volta flashes das sensações e sentimentos que vivera nos fortes braços do lobo. Reflexos tortos, imagens erradas. Carinhos desperdiçados...
E não havia Super-Homem que a salvasse.

Ela desistiu e foi para casa quieta.
Não falou. Foi uma história não escrita.
Papel em branco.

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