Trinta
Acordamos e sabemos que passamos de um marco. Podem chamar de marco social, emocional, até paranóico, mas ainda assim é um marco. Alguns passam por uma crise antes de atingir essa idade, outros fingem não se importar. Mas a verdade é que os trinta anos marcam a verdadeira entrada na vida adulta.
Mulheres escolhem novas paranóias para se atormentarem. Homens começam a pensar em sossegar. A sociedade exige responsabilidade e sucesso - que são erroneamente denominados como casamento e filhos.
Os Príncipes Encantados já estão cansados e tornam-se bravos trabalhadores e as Cinderellas já trocaram o sapatinho de cristal por sandálias mais confortáveis que permitem melhores movimentos. O salão do baile fica mais vazio à medida que amanhece. A realidade fica mais real.
Hora de recolocar os sonhos no lugar. Não deixá-los fugir, desaparecer. Não desistir daqueles sonhos de príncipes e princesas, mas dar a eles uma nova roupa, talvez menos glamurosa, mais real. Experimentamos uma sensação de abandono, de "e agora?", pensando que ainda não conquistamos o que supostamente devíamos ter conquistado aos trinta. A impiedosa "lei" da sociedade nos atinge em cheio, trazendo angústias, reflexões e novos ângulos pelos quais olhar.
Trintices. Nessa época, nos perdemos em nossas trintices.
Os Romeus já comeram as Julietas, que por si mesmas decidiram não casar coisa nenhuma e não dão importância nenhuma à família do ex-amante.
Chapeuzinhos moram sozinhas enquanto os Lobos cozinham para dois, esperando que elas cheguem do trabalho e dêem um pulinho em seus apartamentos para jantar.
Rapunzel tem um novo corte de cabelo, mais moderno e adaptado ao calor de 40º do Rio de Janeiro, e cuida de seus filhos de outro casamento de seu querido príncipe, com o qual mora.
Branca de Neve olha no espelho suas próprias rugas na face lembrando da pele renovada de sua madrasta que acaba de voltar do cirurgião mais badalado e também com megapeitos novos.
Bela acabou de divorciar-se de Fera e dizem por aí que caiu de amores e está dormindo com a Bela Adormecida!
E assim os contos de fadas vão se adaptando... assim como as pessoas de trinta.
E acreditar nos sonhos nessa idade é mais complicado.
Conseguir encontrar seu companheiro é um desafio maior do que matar dragões.
As esperanças andam escondidas, tolhidas pelo medo de mais cicatrizes.
Admitir que se quer o amor é outra complicação. A venda fácil da paixão na TV não ajuda. A oferta de pessoas na internet muito menos...
E eis que temos que achar uma força dentro de si, sorrir para o espelho, enfrentando os primeiros cabelos brancos e fracos desenhos de rugas que contam nossa história de vida e ousar.
Devemos então escolher o melhor vestido de festa, calçar o sapatinho de cristal, nos armar com espadas por precaução apenas, e ir para o baile trazendo conosco todas as esperanças e sonhos redesenhados que pudermos carregar... pois a vida recomeça aos 30!
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