Princesa acordou no meio da noite coberta em suor. Tivera um pesadelo. Um terrível pesadelo. O quarto ainda escuro, os animais da floresta silenciosos... O frio era cortante. Ela sentia raiva dentro de si. Seu mundo estava de cabeça para baixo, sombrio. Muitas esquinas cheias de uma certeza macabra de que sentia raiva, uma raiva crescente.
Uma mistura de mágoa e dor a corroía. Inquieta, pulou da cama com violência jogando os lençóis no chão. Foi até a janela e olhou a floresta. Não pôde deixar de pesar que o maldito sabotador que antes conhecia como Príncipe estava ali em algum lugar desfrutando de alguma inocente mulher... Ou planejando mais meios de extorquir alguma outra otária.
Abanou a cabeça para espantar os pensamentos ruins, mas estava além de suas forças. O ressentimento queimava em seu peito. A dor subia pelas suas entranhas e lhe trazia calafrios. Sua cabeça latejava. Ódio puro. Era incontrolável.
Da janela olhou para seu jardim e avistou três lobos. Estranho, pois ela os conhecia bem e sempre foram dóceis. Olhavam fixamente para ela, em sua janela, e ela percebia que estavam extremamente agressivos. Começaram a uivar para ela. Uivos sofridos.... Uivos altos... Uivos confusos... Uivos ameaçadores! Incrível! Eles estavam conectados a ela. Ela podia sentir cada uivo dos lobos eletrizar sua pele e adensar sua ira. Era como se a união com os lobos a acalmasse um pouco. Companheiros.
Então ela soube o que fazer. De repente tudo estava claro! Ela precisava extravazar aquele ódio que sentia de Príncipe. Ela havia convocado os lobos e eles estavam ali por ela! Era hora! Justiça seria feita! Seu coração finalmente estaria satisfeito de uma forma nunca antes imaginada...
Saiu da janela precisando desesperadamente caçar. Olhou-se no espelho e assustou-se com o que viu. Estava deformada! Sua aparência era horrível! Transparecia o ódio que sentia e iria se entregar a ele. Seu corpo reagira à sensação da ira, da dor da traição. Era sedutor demais largar-se nas mãos do demônio naquele momento. O som dos uivos da noite, o som do ódio... O conforto de saber o que fazer: MATAR!
Desceu correndo as escadas do castelo e se uniu aos lobos. Estava totalmente transformada, era uma monstra. O ódio a transformara e com as quatro patas tocando o chão rápido embrenhou-se na mata seguida pelos outros lobos. Sentia sua mandíbula tensa e suas enormes presas pressionarem fortemente o lábio inferior.
Enquanto afundava na noite pela floresta, sentia o cheiro dele... era o cheiro de podre. Ela sabia para onde ir exatamente pelo cheiro que ele exalava, o cheiro de carniça, de presa, de morte... Seguida pelos seus fiéis companheiros lobos ela se aproximava ainda mais daquele cheiro nojento e alucinante ao mesmo tempo.
Avistou-o entre os arbustos. Ele sorria um sorriso sarcástico de quem se sentia poderoso, contabilizando mentalmente o proveito tirado de alguém. O estômago da monstra se contorceu e a raiva eriçou seus pêlos imediatamente. Sangue, ela precisava de sangue! Do sangue dele! Saiu do meio do mato com um salto e exibiu os caninos para ele, rosnando. Os três lobos fizeram o mesmo, alinhados em formação de ataque.
O homem imediatamente soube quem estava ali, apesar da impressionante transformação. Ele sentiu o terror. Sabia que ela conhecia seu verdadeiro eu agora, e sabia que ela estaria imune a seu veneno... Estaria mesmo? Ele tinha que tentar...
- Princesa, que saudades, querida... - começou...
A voz dele saíra totalmente torta, áspera e obviamente mentirosa, o que trouxe náuseas a ela. A sensação de nojo aumentou e ela se sentiu salivar. Rosnou agressivamente e investiu contra ele. Os outros lobos montaram guarda enquanto observavam-na rasgar a pele do braço do sujeito com a primeira mordida.
O homem gritava desesperadamente e quanto mais pedia perdão, mais aumentava o ódio da monstra. Ela estava cega, sentindo-se como uma gladiadora. Selvagem. Mortal. Desejava nada menos que a alma daquele infeliz. Desejava despedaçá-lo todo e vê-lo sangrar até a morte, sofrendo como deveria ser... Assim estaria vingada, assim estaria em paz. Afastou-se dele um pouco e contemplou os enormes arranhões que fizera em seu peito, que sangravam como rios. O rosto dele contorcia-se de dor. Ela esgarçou os dentes ensanguentados, sorrindo.
Olhou para seus fiéis lobos e acenou com um pequeno gesto de cabeça ordenando que participassem da matança. Afastou-se do grupo sem desgrudar os olhos cheios de ódio da cena. Com as garras fincadas na terra e os pêlos das costas ainda eriçados, observava os lobos destroçarem o infeliz covarde que gritava pedindo ajuda a ela. Piedade.
Piedade??? Agora ele conhecia aquilo? Impossível acreditar que aquele rato em formato de homem era um ser capaz de entender fidelidade, companheirismo e piedade.. Não demonstrara nada além do pior no tempo em que aproveitara-se dela sem escrúpulos e agira como um rato. Então como um rato caçado morreria!
Rosnou seu ódio de onde estava. O som avisou aos lobos que era hora de terminar com a tarefa. Ela assistia aos braços sendo arrancados, o sangue sendo derramado. Uma mordida deformou o anteriormente belo rosto do homem e seus gritos desesperados iam enfraquecendo. Um dos lobos enfiou as unhas da pata na barriga da presa expondo o interior podre daquele pobre espécimen humano. As tripas espalhavam-se pela terra encharcada pelo sangue...
A monstra ouviu o último grito de agonia do maldito sujeito enquanto uivava para a lua feliz....
...
E a lua sorria de volta. A natureza se ajustava e absorvia a matança. Os lobos satisfeitos, dever cumprido. Fidelidade era aquilo. E Princesa sentia-se plena de novo. Sentiu a luz da lua acariciar seu corpo nu coberto de sangue. Era humana de novo. Da ponta de seus cabelos compridos pingavam gotas vermelhas de sangue, tinha as unhas sujas de terra, os pés esfolados da corrida pela floresta, mas a alma leve.
De pé, abriu os braços e deixou-se sentir a paz que a invadia. Justiça fora feita.... sangrenta e deliciosa justiça. Olhou para seus três lobos dóceis e efagou-lhes o pêlo coberto de sangue.
Caminharam calmamente de volta para o castelo onde ela, agora sim, viveria feliz para sempre!
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sábado, 27 de novembro de 2010
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