segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Era uma mulher que adorava cães.
Compartilhava com eles muitos momentos deliciosos, e também dividia com eles fatos nem tão deliciosos assim. Os cães sempre fizeram parte da sua vida. Ela lidava muito bem com eles.

E possuía muitos cães. Cães fiéis e companheiros - aqueles que ela considerava irmãos. Cães que serviam apenas para caça - breve instante cheio de adrenalina e violência. Cães de família - aqueles a quem se dedicava como se fossem seus filhos. E também havia aqueles cães cachorrões - daqueles vagabundos sem dono e sem destino, que se fartam e partem. E às vezes cães selvagens batiam à sua porta e cruzavam com ela... apenas isso: cruzavam com ela.

Assim, ela tinha certeza de que não precisava de mais cão algum. Não era sequer uma hipótese em sua vida. Já conhecia todos os tipos de cachorros que precisava conhecer (e os que não precisava também).

Saiu para caminhar ao sol, num belo final de tarde. O mar ao seu lado, a brisa brincando faceira com seus cabelos, o sorriso estampado no rosto. E ela viu o vira-lata. Mais um cão. Ele parecia inofensivo, bonzinho, simpático, como a maioria dos cães... Mas o que faria com ele? Afinal, era mais um cão...

Decidiu relaxar e curtir o momento. O vira-lata era bonitinho e tinha cativado sua atenção um pouco mais do que ela imaginara. Deixou-se passar tempo ao seu lado. Permitiu também que ele a reconhecesse. Farejamento de praxe. Era definitivamente um cãozinho simpático. Mas, será que ela precisava de mais um? Teria ela coragem de encarar mais um? O que faria com ele?





O sol se foi e a lua passou a iluminá-los quando voltaram a caminhar ao lado do mar. Andaram lado a lado até um ponto que ficava além da curva, mais afastado da praia do que o normal. O tempo passara depressa e ela percebera que gostara do vira-lata. Ele sorria bonito, sempre por perto, sempre amigável, agradável, transmitindo carinho até mesmo com os olhos. E quando ela olhou em torno, era como se não visse mais nada... como se o mundo não importasse, ficasse em stand by enquanto brincava com o vira-lata.

Fechou os olhos para tentar perceber melhor o momento e tudo que percebeu foi que o vira-lata estava em seu colo, agarradinho a ela, fazendo-a sentir-se feliz, acariciando sua pele e sorrindo sempre. Abriu os olhos e olhou bem para o vira-lata. Agora a proximidade os tornava um só. Afagou seu pêlo com carinho. Definitivamente gostava dele.

E de repente ela teve uma certeza: não sabia antes, mas queria aquele vira-lata na sua vida! Abraçou-o, carregou-o para casa e confiou nele, apesar de ter apenas passado algumas horas em sua companhia. Daria ao vira-lata simpático, carinhoso e de olhinhos honestos o cuidado de que precisava, e, principalmente, daria a si mesma essa chance...

2 comentários:

  1. É tão bom ler certas histórias, ver certas cenas, e certos acontecimentos através dos olhos e sentimentos de outra pessoa... Isso faz com que a gente sinta que não só o que presenciamos se amplie, mas aumenta um pouco o diâmetro do círculo de nossos sentimentos. E os círculos vão se ampliando, como ondas no lago, até tocar um no outro. Belos sentimentos. Me senti muito bem em lê-los. Beijo.

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  2. P.S.: Adorei a foto do Vira-latinhas preto também! :)

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