sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Eu cheguei lá andando com dificuldade, toda atrapalhada com as muletas. A casinha ficava num cantinho escondido, numa vila de casas no meio do centro comercial nervoso de Icaraí. Lá era a tal clínica de fisioterapia. Lugarzinho simpático que eu não conhecia.

Nova etapa do meu tratamento para o tornozelo quebrado, a fisioterapia ainda era mistério para mim. Imaginei mil máquinas, um profissional dedicado a esticar e torcer o meu dolorido pé quebrado, uma sala quieta comigo concentrada nos movimentos... Mas não foi assim...



Descobri onde os velhinhos se escondem! Velhinhas e velhinhos com suas artroses, artrites, esporões, bursites e ossos fraturados devido a quedas simples estavam lá reunidos conversando animadamente. Percebi logo que eram habitués, uma vez que já tratavam a assistente pelo nome, sabiam eles próprios quais exercícios fazer e, espertos, usavam roupas de ginástica pra facilitar os movimentos.

Eu não sabia de nada. Sentei com minhas radiografias e esperei pelo tal "médico" que iria avaliar o meu problema e me submeter aos exercícios. Mas eu cheguei tão atrapalhada com as muletas caindo, a bolsa pendurada, suando por causa do esforço mais o infernal calor do verão carioca e calçada com a super bota ortopédica, ou "robocop" para os íntimos, que os velhinhos se calaram...



Olhavam pra mim como se eu fosse uma extra terrestre que invadiu a clínica de fisio deles. Mas, gentilmente, uma senhora de mais de 60 anos levantou-se da cadeira e me cedeu o lugar dizendo que eu estava pior do que ela! Ri e sentei no meio delas. Trocavam receitas e conversavam sobre quedas e fraturas nos ossos. Quiseram saber sobre o meu acidente... e esse foi só o começo.

O tal fisioterapeuta chegou e não demorou a me chamar. Sem nem me olhar, me sentou em uma das seis macas que ficavam lado a lado numa sala de tamanho médio, e colocou um saco de gelo no tornozelo. Não sabia por quê, nem por quanto tempo. Eu é que disse que tinha radiografias para ele ver. Levou 3 segundos para ver todas elas e fez um "hum hum" no final. Não sei o que isso significou, mas pareceu o entediante som do trabalho rotineiro que ele teria pela frente com mais eu como paciente.



Olhava em volta assombrada com a quantidade de pessoas na sala ao mesmo tempo conversando e se exercitando, ou no gelo, ou no tal laser (que deve servir para alguma coisa que até agora não me explicaram). Deve ser das mazelas dos planos de saúde, ou seja, muitos pacientes mal atendidos socados em uma sala ao mesmo tempo, disputando o mesmo fisioterapeuta. Aliás, o sujeito era grosso e rude, de pouco papo e parecia ter ainda menos interesse nos pacientes. O jeito era relaxar, já que nada do que eu esperava que fosse a fisioterapia aconteceu e eu ainda tinha 9 sessões.

Enturmei-me rápido com os velhinhos, pessoas acidentadas e na conversa comunitária, já que é impossível conversar em particular naquela sala de azulejos que ecoam o som de todas as vozes ao mesmo tempo. A conversa se torna única. Desisti de ler o livro que levei (achando que ficaria sozinha numa salinha) pois não consegui me concentrar pra ler uma só linha.

Ao meu lado, um rapaz que quebrou o tornozelo como eu mas precisou operar. Futebol, disse ele. Na maca da frente uma senhora sentia dores nos pés inchados. Deitado numa outra maca, um senhor com paralisia facial e noutra, uma menina com dor nos ombros de tanto trabalhar na confeitaria de um supermercado grande. Na parede mais distante das macas ficavam pessoas de costa para a parede fazendo a "dança das bolinhas". Explico: Coloca-se uma bolinha de brinquedo pra cachorro (sim, eles compram no pet shop!) na lombar e pressiona-se a bolinha contra a parede fazendo-a rolar e resultando na tal dancinha. Engraçado demais!



No meio disso tudo algumas mulheres de meia idade esportistas com roupas de ginástica faziam pilates nos aparelhos com molas espalhados na mesma sala. Uma confusão só! O fisioterapeuta mal sabe o nome dos pacientes: ele só conversa com os mais antigos e volta e meia aponta para um e para outro mostrando que ele deve parar aquele exercício e começar outro que ele apontar. Tem que ficar esperto e sacar de cara o que ele quer que você faça, caso contrário irá enfrentar a cara feia dele e a resposta curta e grossa. Entendi logo.

Sentei num banco apoiando o pé num pedal que girava uma roda com correia que mais parecia uma máquina de costura do século passado ou um instrumento de tortura e, como o infeliz do fisio não havia me explicado como fazer, fiquei tentando fazer o troço funcionar de alguma maneira sensata. Uma velhinha que ia fazer a dança da bolinha parou do meu lado e me deu o bizu. Ela também havia quebrado o tornozelo numa queda na calçada, precisou fazer cirurgia e já estava cansada de fazer fisioterapia. Aí me adotou e começou a me ensinar a usar o tal pedal com correia e a caminhar depois, quando mudei de exercício. Também me deu dicas de médicos e me indicou acupuntura.

Saquei que o negócio era interagir com os velhinhos. Velhinhos modernos e simpáticos. As velinhas engraçadas, solteiras que não queriam casar, viúvas que diziam "graças a deus, não tenho mais marido", outras mais conservadoras contavam sobre filhos e maridos. Também percebi que iria precisar de muito mais concentração do que achava para focar nos exercícios. As velhinhas fazem a maior zona!

No terceiro dia, já safa, consegui fazer amizade com o fisioterapeuta ranzinza e principalmente com a auxiliar, sem a qual aquela zona não funciona! Já vou relaxada, pronta pra conversar com alguma senhorinha e desisti de andar de muletas pra não me sentir tão alienígena. Afinal, se vou lá pra tirar a bota de robocop e andar descalça (sentindo dor), posso andar sem muletas!

Nessa confusão da tal fisioterapia vale a frase: Quando em Roma, faça como os romanos!
E vamos ver se isso aí melhora...


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