domingo, 9 de novembro de 2008






Cena 1

Ele está deitado com ela na cama. Abraçado a ela como a uma almofada, praticamente enrrolados. Olha em seus olhos faminto. Ávido por carinho, por uma relação estável, envolvendo família. Por uma namorada.
Ela olha de volta em seus olhos, feliz. Mas calma. Não sente o turbilhão de emoções que ele parece sentir. Desfrutando daquele momento, mas sem pensar muito. Sem entender. E sem pretender... Sem esperar nada. Talvez entorpecida de alguma relação com um ponto final ruim e várias arestas a aparar...
Ele vem com intensidade, com diversas ligações e mensagens carinhosas. Amor, coração, gatinha, meu anjo, minha flor são apelidos que saem de seus lábios como uma corrente forte. Ele quer resgatar o tempo passado. Ele quer corrigir erros e, quem sabe, montar seu futuro sério nessa relação.
Ela não sabe se quer uma relação. Embora queira, no fundo. Medo? Não sabe. De quê? De se envolver e não ser a pessoa certa. De querer e não ser querida. De sentir e ser abandonada. De pretender... e se perder sozinha.

Cena 2

Ela está abraçada a ele. Deitada em seu peito e sentindo seus carinhos. Sabe que ele não é o "ideal" para ela, mas a trata bem, com respeito e amor. Muito carinho é devotado a ela. E elogios infinitos à sua beleza, pele, cabelos, boca, sorriso. Ela se sente quase uma deusa.
Ele chora, quase implorando por sua atenção. Coloca suas prioridades abaixo das dela, servindo-a quando ela bem quiser. É o próprio tapete onde ela pisa. O motorista que a ajuda. Seu guarda particular. É desigual.
Ela sente pena dele. Sabe que o está usando pois a faz sentir bem. E tem a cama. Perfeito! Mas não é para ela, e ela sabe. Triste.

Cena 3

Belo, alto, forte, inteligente, amigo, carinhoso... um sonho! Ela já ameaçou amá-lo há muitos anos atrás. Mas ele a negou. Ela sofreu e se afastou. Quis o destino que eles se revissem. E se tornaram amigos... com cama. Carinho, tesão, amizade e diversão.
Ela o esperou. Ele estava em um relacionamento e acabou. Mas ainda, não a escolheu. E ela sonhou, quis, desejou ser essa namorada. Dessa vez poderia dar certo. Mas ele não está na fase certa. Não quer rótulos. Ela aceita e assim seguem.
Meses se passam e ela pensa sobre o assunto. Afinal, seu coração não é um aparelho que se pode ligar e desligar enquanto não estiver usando. Como ela poderia esperar que ele se decidisse? Ele parece tão complexo. Com certeza a relação não evoluiria. Seriam sempre amigos que fazem sexo de vez em quando. É pouco. E ela se afastou.

Cena 4

Ele tinha tudo. Tinha seu coração, sua lealdade, sua força, sua amizade... e sua mão. Era o único na vida dela. Era pra sempre. E ele a perdeu. Fez tudo errado. Fez a única coisa que não poderia ter feito. Fez feio. Traição e mágoa. Muitas lágrimas e a inevitável separação.
Alguns nós ainda os prendiam juntos, e a separação foi gradual. Até que ela o tirasse do peito foi demorado e dolorido. Até que ela o tirasse da cabeça e passasse a sentir pena.
E ele se arrependeu, como era esperado. E como ela tinha avisado. Ela sabia exatamente o que iria acontecer. E foi o que aconteceu.
Ele tenta a todo custo mantê-la por perto. Diz que sente saudades. E ela não duvida. Só que não sente nada. Lágrimas às vezes aparecem em seus olhos quando conversam por telefone e o assunto vai se tornando pessoal e íntimo dos dois, da relação que houve. Mas ela não sente nada. Também não pode mais. A porta se fechou.

Cena final

Uma mulher senta em seu quarto e escreve esse ensaio.
Não sabe o que pretende. Só deixa fluir.
São quatro cenas (e poderiam ser mais) que atualmente a confundem. O que ela quer?
Fácil: amor.
Mesmo?
Não sei.
E que tal, acertar?
Como?
Não sei.
Melhor ficar fria. Quieta. Deixar rolar. Um dia esse nó tem que se desfazer. Um dia ela viverá como deseja e sempre desejou, um amor companheiro e sereno, contínuo e despreocupado, porém intenso e eterno. E com aquele que será o certo.
É, chega de errados. Chega de errar.

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