sexta-feira, 9 de novembro de 2012



Aterrorizante. Essa é a palavra que define uma cirurgia dentária, ou melhor, uma plástica dentária. Não sabendo muito o que era a tal plástica, apenas que envolveria 3 dentes e me deixaria sem mastigas por 15 dias, eu sabia que era bem mais complexo que apenas uma cirurgia simples... Então eu estava aterrorizada.

Não consegui trabalhar o dia todo porque só pensava na maldita cirurgia. Era às 15:30h e eu fiz questão de almoçar em um restaurante maravilhoso, belos punhados de frutos do mar pois sabia que meus dias de mastigação estavam encerrados por um bom tempo.

Barriguinha cheia e dentes escovados, me despedi dos colegas do trabalho, tendo avisado que ficaria de licença até segunda, e fui pro dentista meia hora antes. Esperava ficar jogando conversa fora lá na recepção e me acalmar, porém não consegui.

Meu coração estava tão acelerado que parecia até que eu tinha tomado 5 cápsulas daquelas de cafeína que tomo pra malhar. Sendo que pra malhar eu só tomo uma e já dá um efeito de ativamento da circulação bem forte. Nervosa, eu não parava de falar sobre a cirurgia de castração da minha cachorrinha que estava acontecendo ao mesmo tempo, e que a minha avó tinha feito e mandado pra mim sopinha batida pra eu jantar.



A simpatia da dentista não me acalmou, nem suas histórias dos 6 cãezinhos que possui. Me distraiu um pouco, porém, voltei a ficar tensa quando me colocaram deitada na cadeira e me tiraram um tubo de sangue para o enxerto ósseo, por causa das células que ajudariam na cicatrização (disse um dos 4 dentistas presentes na sala) .

Tive que colocar toca cirúrgica, e me cobriram com um lençol atoalhado até a cabeça, que só tinha um buraco pra colocar minha cara. Me enfiaram aquele sugador maldito na boca e ali eu sabia que estava perdida. A dentista pousou o braço com o agulhão de anestesia no meu peito e eu achei que os batimentos iriam atrapalhá-la de tão fortes. Minha garganta começou a fechar e eu achei que ia sufocar sem ar, sei lá porquê.

A enfiada de diversas e dolorosas agulhadas de anestesia foi das coisas mais bizarras que já passei na vida. A dentista avisava que ia dar uma pressão, que ia doer, etc, etc, e enfiava a agulha como sem piedade, rapida e agressivamente. Senti muita dor. Foram mais de 15 agulhadas e dos meus olhos escorreram lágrimas enquanto ela me maltratava com a agulha.



Queria que houvesse um jeito dos dentistas fazerem a gente dormir. É muito aterrorizante ficar imóvel, deitada, olhando aqueles sádicos enfiarem 5 instrumentos de uma vez dentro da minha pequena boca, futucarem, furarem e cortarem o que quiserem!

A todo tempo eles me perguntavam "tudo bem, querida?" na tentativa de saber porque meus olhos estavam tão esbugalhados e eu tão tensa agarrada na cadeira. Avisei que estava com palpitações extremamente fortes no coração e a dentista me disse apenas "relaxa". Hein?! Como?!



Do buraco onde ficava minha cabeça envolta naquele pano cirúrgico eu só via um olho da dentista, que segurava o bisturi e uma pinça, dos quais eu via os cabos, e um olho com óculos do dentista assistente dela, que segurava o sugador de sangue e o afastador de lábios que estava cortando meu canto da boca. Isso e os focos de luz apontados pra minha cara. Sinistro é pouco.

O sugador de sangue mal dava conta pois o meu coração desesperado bombeava mais sangue do que precisaria, como se eu estivesse correndo uma maratona. Eu sentia o sangue esquentando minhas bochechas, como quando eu malho. A circulação acelerada me tirou mais sangue do que eu precisava e comecei a ficar tonta, ali, deitada na cadeira.

Depois de tirar bastante tecido de gengiva, a dentista agarrou o motorzinho e sem pena começou a desgastar meu osso. O objetivo era "dar espaço pra colocar dois blocos nos dentes de baixo". No momento, eu não tinha osso suficiente aparecendo pra fixar os blocos. E o motorzinho continuava destruindo meu osso.

Eu fazia "hã hã" afirmando que estava tudo bem pela décima vez que eles me perguntavam com gentileza, porém queria levantar e sair correndo! A dentista serrava meu osso, cortava pedaços e mais pedaços de gengiva, e chamava outros dentistas para ver se já estava bom. Meu maxilar ardia de cansaço e tensão musculares.


Chegava a hora do tal enxerto. O dentista especialista, que havia tirado o meu sangue, o colocou em uma espécie de centrífuga pra criar um coágulo de plaquetas que colocaria dentro da minha gengiva, junto com pedacinhos de osso, que eles chamavam carinhosamente de "membraninhas" pra acertar a descalcificação que eu vinha sofrendo ao redor do implante que fiz aos 20 anos de idade. O tal coágulo foi carinhosamente apelidado de "cerejinha" (pois ele ficava redondinho e vermelhinho, parece) e teve que ser partido em 8 pedacinhos pra enfiar dentro da minha gengiva.

O dentista assistente virou o principal e a dentista passou a segurar o sugador de sangue e o afastador. Ele enfiava várias coisas na minha gengiva, que apesar da anestesia, eu podia sentir roçando no meu osso ou dente, sei lá. Horrível, pra dizer o mínimo! 

De repente eles avisaram que já ia acabar e apareceu a linha de sutura. Ufa, estava mesmo no fim. Mas o que eu não sabia era que também estava no fim a sensação de anestesia de uma parte dos dentes. Mas, pensei, o processo de anestesia inicial foi TÃO RUIM que achei melhor suportar a dor dos furos da sutura. Não queria ter que aguentar a dentista enfiando a agulha e apertando forte o líquido pra dentro da minha bochecha e dentes. Até agora acho que foi melhor assim.



Encerrado o teatro dos horrores dentro da minha boca, eles pareceram satisfeitos com o resultado e ainda me deixaram vários minutos deitada ali pro meu sangue voltar ao normal, ou eu não ficar tonta (mais tonta do que já estava). Me deram uma bolsa térmica gelada enrolada num paninho que eu não poderia tirar da bochecha até o dia seguinte, e um monte de recomendações.
Não andar, não falar, não me expor ao sol, dormir com a cabela acima do corpo  (ou seja, não dormir), e principalmente não comer!

A parte boa foi ter toda a atenção do mundo do namorado, ganhar um bloquinho de anotações com canetinha roxa pra escrever ao invés de falar (uma das proibições dos dentistas) e comer a sopinha da vovó trazida pela mamãe, que estava uma delícia!

A gente sofre, mas tem que ter a compensação. Namorado, família e amigos todos torcendo por mim e me ajudando a passar por mais essa que eu inventei... rs

0 comentários:

Postar um comentário