sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014



O sistema capitalista de trabalho oprime o ser humano, o escraviza. Tira da pessoa o tempo livre com a família, tempo de estudo, de aprimoramentos pessoais, tempo em que poderia fazer coisas interessantes para si mesmo. O trabalho, considerando aquele em que se trabalha para outrem, tira a autodeterminação, traço típico do ser humano e nos transforma em obsoletas máquinas de repetição de tarefa. Isso me enoja cada vez mais...

Passo oito, nove horas por dias sentada de frente pra uma tela de computador. Sem contar as pelo menos três horas diárias que passo no trânsito tentando chegar ao local de trabalho, um local horroroso e de difícil acesso que o dono da empresa resolveu ajudar a revitalizar. Querem que eu seja produtiva oito horas por dia. Mesmo?! Como? Com que motivação?



Há anos o mesmo salário, sem perspectiva de melhoria de condições de trabalho, podendo ficar sem férias (único período de alegria na vida da pessoa) a qualquer momento, sem reconhecimento e sem desafios interessantes. Sento e repito tarefas. Às vezes até uso o cérebro e efetivamente administro coisas ou situações. Porém, não é do meu interesse, ou seja,  não consigo me esforçar para cumprir uma tarefa que nem de longe me interessa.

E assim passo meus dias. Acordando cedo demais, pagando caro demais pelo transporte (que o empregador não reembolsa totalmente), pagando extremamente caro pelo almoço na rua, geralmente de péssima qualidade, muito sal e pouco saudável, e passando o dia a imaginar quantas coisas eu poderia estar fazendo com o meu tempo. Se fosse meu...



Na verdade, volta e meia me dou ao direito de enganar o empregador. Isso mesmo, enganar. Fico sentada em frente ao computador, com uma planilha super complicada à disposição para emergências, e leio coisas pela internet. Pesquiso e leio coisas do MEU interesse. Sim, estou aqui confessando que tem dias em que não trabalho, apesar de estar no trabalho.

O tédio das tarefas diárias me toma de um jeito tal que eu não consigo nem ler um e-mail empresarial, daqueles que começam com “Prezados...” e terminam com “Atenciosamente”. Um saco! Um saco cheião! Então não faço nada. 

Navego o dia todo pela internet e me distraio com besteiras via celular. Nessas horas, viajo por lugares desconhecidos, aprendo o que me interessa, descubro novas ideias, me aprofundo naquilo que não sei bem... tudo guiado pelo meu interesse.



A empresa pode pegar o histórico de navegação do meu browser e descobrir que passei sete das oito horas de trabalho sendo improdutiva e consumindo banda de internet e me despedir. Pode sim. Mas quem poderia julgar o ser humano aprisionado em um prédio climatizado e vedado, sempre a realizar tarefas que não o interessam só para pagar as contas? Eu me arrisco, visto que não posso ir contra a minha vontade de fazer coisas diferentes e interessantes. É mais forte do que eu.

Perdoe-me quem defende o trabalho. Eu defendo o ócio e as aventuras, que estimulam cérebro e alma. Mas sei que há o dinheiro... e volto a ficar presa aqui, na frente do computador, frustrada, a sonhar com o que poderia ser feito com o meu tempo... se ele fosse meu.



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