O aniversário
da minha sobrinha se aproximava e eu já sabia que meu irmão ficaria baratinado com a ideia de fazer a festinha.
Desesperado, sem nunca ter feito uma festa, muito menos infantil, sozinho... Claro
que, como boa irmã e tia da única criança da família, me ofereci pra ajudar. Eu
ficaria com parte da decoração da festa.
E assim
começou minha saga. Após saber do tema da festinha, tive que rever meus
conceitos e ir pro Saara comprar as coisinhas (Eu sempre disse que detestava aquele lugar e que NUNCA iria comprar nada lá. Paguei a língua.). Escalei uma amiga, profunda conhecedora daquele meio ambiente hostil, que seria meu
mapa e minha bússola naquele inferno de lojinhas que era o Saara e sacrifiquei
minhas horas de almoço debaixo do sol de verão inclemente por três dias.
Cada dia
comprava um pouco. Um dia foram os descartáveis, toalhas de mesa e balões de aniversário de cores rosa,
lilás e branco. Outro dia, as balas. Jamais saberia como jujubas, delicados,
marshmellows, amendoim com chocolate, pirulitos e balinhas eram pesados e
custavam caro se eu não fosse tia! Encerrei aquele dia no Saara quando enchi dois
sacos de balas e voltei arrastando-os pro trabalho! No último dia encontrei a
fantasia de Rapunzel (carésima, por sinal, e patrocinada pela minha madrasta) e os
papéis de seda e crepom, cola quente, tinta de artesanato, novelos de lã, purpurina,
florezinhas plásticas, a vela do bolo e outros detalhezinhos necessários pra terminar
a decoração. Logicamente, como era janeiro, tive que travar lutas corporais dentro
da papelaria em busca dos itens que precisava contra as mães que se degladiavam
pelo material escolar de seus filhinhos. Nesse dia levei três horas andando sob o sol de loja em loja... Surreal!
No final, com
grande ajuda da minha amiga, saí vitoriosa das incursões ao mercado popular do
Saara debaixo do sol de verão. Por causa dessa festa, talvez, apesar do
protetor solar fator 60, minha pele tenha perdido um ano de vitalidade por
causa da exposição aos nocivos raios solares do meio dia às duas da tarde e eu
tenha quase desidratado sob o sol de janeiro. Também, por causa da festa, perdi
muitas horas de trabalho (as quais terei que repor), e ainda esvaziei meu
cofrinho já meio sofrido depois das férias de dezembro... Mas esse era o preço
e eu não me importei. Terminei minha saga das compras feliz por ter encontrado principalmente
uma torre de castelo de isopor que eu pretendia transformar na torre da
Rapunzel pra colocar na mesa e depois dar de presente pra aniversariante de 4
aninhos.
Após encher a
mochila a semana inteira e carregar sacos e sacos pra casa na lotação da barca
e do ônibus que eu pego diariamente pra casa (sem nos esquecer nunca do calor
animalesco do Rio de Janeiro no verão) eu tinha mais um desafio: preparar a
decoração toda sozinha em um único fim de semana.
Os 100 papéis
de seda virariam 10 pompons lilases e brancos para pendurar no teto. Os
diversos sacos de bala mais os potinhos e as fitas virariam as lembrancinhas da
festa. Os novelos de lã virariam a trança da Rapunzel que cairia sobre a mesa,
entre os docinhos. E as impressões gráficas que encarreguei o Tio Junior de administrar
se transformariam em paper toys do simpático camaleão Pascal que eu usaria para
enfeitar as mesas e alegrar as crianças. E, acima de tudo, a nua torre branca
de isopor que eu havia comprado por último, teria que se tornar uma bela torre
colorida e florida da princesa.
Ansiosa,
acordei cedo sábado e domingo para começar os trabalhos. Cortei papel, colei
purpurina, cortei florzinhas, dobrei folhas de papel de seda, trancei fios de
lã... Dormia tarde e as coisas nunca pareciam estar prontas.
Confesso que
a torre era meu xodó e a que necessitou de mais tempo e dedicação. Tio Junior
apontou um palito de fósforo que eu usei para passar cola e fixar as pequenas
flores, borboletinhas, abelhinhas e joaninhas, folhinhas e heras na torre do
castelo. A purpurina furta-cor deu um efeito maravilhoso sobre o telhado que
pintei de roxo. No final, a torre me pareceu digna de uma princesa de verdade,
e principalmente, perfeita para ser apreciada pela minha sobrinha.
A trança,
feita com dois novelos de lã me deu bastante trabalho. Volta e meia o Tio Junior
abria a porta do quarto que eu elegi como estúdio pra minhas artes e me via
embolada no meio dos fios amarelos. Eu resmungava qualquer coisa e ele me
deixava em paz. Quando voltava, eu estava ainda mais embolada. Quase às nove
horas da noite, desisti de trançar e meti a tesoura no restante de fios
embolados dando por encerrada a minha longa trança.
Sacolas e
mais sacolas de enfeites no carro, fomos pra casa do meu irmão. Encaramos o
salão de festa enorme a partir do meio dia, com o calor tradicional nos
cozinhando. E foi um tal de encher bolas, arrastar mesas, colar enfeites,
montar a mesa do bolo, colar pompons no teto e figurinhas da princesa pelas
paredes, colocar toalhas nas mesas, etc, etc. Meu irmão e minhas cunhadas (ex e
atual mulheres) tratavam do gelo, salgadinhos, comidinhas, bolo. Uma amiga da
família cuidou dos docinhos. Coloquei os garçons e a fritadeira que chegaram
mais cedo pra ajudar a mim e ao Tio Junior a enfeitar o salão e até o enteado
do meu irmão de 8 anos teve trabalho a fazer.
As pessoas
chegavam na hora marcada pra festa e eu e o Junior suados, nojentos, em cima
das cadeiras terminando de colocar o mobile, feito por outra amiga minha, sobre
a mesa do bolo. Estrelinhas e bolinhas pendiam sobre a mesa do bolo, linda,
enorme, superenfeitada e com minha torre iluminada reinando soberana.
Nunca corri
tanto, nunca suei tanto, nem tive tanto trabalho pra montar uma festa na minha
vida! Mas cada esforço valeu a pena! Cada estresse se tornou ínfimo ao ver os
olhinhos da minha sobrinha iluminados de alegria com a sua festinha. O
sorrisinho dela arrancou lágrimas desta tia que vos fala e de muitos adultos na
festa. Pura emoção!
Um sucesso! Muita gente perguntando se eu trabalhava com montagem de mesa e festas infantis!!! Socorro! Nunca! Só faço uma vez por ano pra minha sobrinha!!!
Já estou esperando
o tema da festinha do ano que vem!
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