terça-feira, 3 de maio de 2011

Era uma manhã de segunda-feria chuvosa, e eu, cheia de dor na coluna, não fui trabalhar. Namorado também ficou lá em casa para cuidar de mim, toda manhosa por estar com dor.

Fui abrir a janela da área para ver meus queridos cães no quintal quando, entre as cabeças dos cachorros que pulavam em mim pela janela, felizes em me ver, consegui ver um bicho selvagem deitado no cimento.

Num primeiro momento não decifrei o que era. Dei um grito assustada com o bicho deitado ali, que era uma mistura de morcego (sem asa), rato (grande demais) e tatu (sem casca). Sei lá o que era aquilo, mas sei que era grande! Meio pelado, cheio de dedos (5 em cada "pata"), com orelha "plástica" e enorme rabo enrrolado (como o de um camaleão). Reparei nos dentes da boca semi-aberta. Como aquele bicho tinha dentes!!! (Depois, no Google, vi que são 50 dentes!).



 Fiquei muito apavorada com a ideia do bicho estar ferido, sangrando, rasgado de alguma forma pelos meus 5 cães domésticos. Cheguei a pensar que a criatura podia trazer doenças pros meus cães. Fiquei penalizada pensando que o ser selvagem deitado ali poderia estar sofrendo, semi-morto, e que eu teria que esperar que ele morresse sofrendo antes de tirá-lo do meu quintal.
Deveria chamar um veterinário?
Deveria abstrair o bicho e fingir que não vi e só retirá-lo à noite?
Deveria enfiá-lo num saco de lixo?

Olhei de novo pela janela e o bicho permanecia ali imóvel. Raparei com mais atenção e vi que ele respirava bem de leve e que suas orelhas se mexiam devagar, ouvindo os ruídos ao seu redor. Ele permanecia em posição fetal, com o rabo enrrolado. De olhinhos fechados.

Achei que ele estava numa posição muito protegida para estar morto. E não havia sangue. A boca semi-aberta sugeria que ele estaria pronto para um ataque a qualquer momento. O puto estava fingindo!!! Ele não estava morto, o safado se fingia de morto!

 Gritei pelo meu namorado que levou uma eternidade para aparecer, achando que eu, exagerada como sempre, tinha visto apenas um bichinho qualquer. Quando ele finalmente veio, identificou o invasor deitado no quintal dos cachorros como um gambá!


Eu nunca tinha visto um gambá de verdade! É bem diferente daquele bonitinho americano com a listrinha branca nas costas que corre atrás da gatinha... Esse era feioso!



Abri o portão que separa o quintal do jardim para tirar os cachorros de perto da criatura "ferida" e cheia de dentes. Podia ser perigoso. Ficamos, eu e o namorado, bolando a melhor maneira de tirar o bicho de lá. Quando abrimos a janela novamente para olharmos onde o gambá estava, ele não estava mais lá!

Rapidamente olhei pela outra janela da área de serviço e vi o gambá deitado em outro lugar, de novo em posição fetal, mas com a patinha traseira aberta, como se estivesse alerta para se defender ao mínimo toque de um predador. O predador em questão era Samantha, a poodle com 15 anos de idade que também habita o quintal.

A cachorra cheirava tranquilamente o gambá imóvel quando eu gritei, expulsando Samantha de perto do bicho. Dizem que gambás fedem, mas eu sinceramente não senti cheiro de nada. Talvez aquele gambá estivesse "relax", tranquilão se fingindo de morto e nem aí pras ameaças caninas do quintal que ele invadiu. Portanto, sem estresse, sem cheiro.

O valente namorado saiu quintal afora com um latão de lixo plástico e uma vassoura. Decidimos que não podíamos ficar assistindo o bicho morrer no quintal. Era cruel demais. Nem arriscar que ele resolvesse se defender e mordesse (com aquele monte de dentes) meus dóceis cãezinhos...



Ele colocou o latão ao lado da criatura deitada no chão e empurrou com a vassoura o corpo dele em direção à abertura do latão de lixo vazio. O gambá se animou a se esconder e entrou no latão. O namorado bravamente virou o latão de boca pra cima, sentindo o bicho escorregar pro fundo da lata e tampou-o.

Claro que essa operação delicada eu não fui capaz de assistir. Fiquei lá no portão da casa esperando ele vir com a lata de lixo fechada e subir a rua em direção à natureza. No topo da rua onde moro há uma floresta e foi lá que ele soltou o gambá.

Atordoado, mas inteirinho, o bicho saiu da lata de lixo, olhou em volta, pensou, olhou pro meu namorado, pensou "onde estou?", "pra onde vou?", "como cheguei aqui?" e depois saiu andando em direção às árvores, feliz da vida.

E esse foi mais um resgate heróico do meu namorado multitarefas que já lutou com lacraia pra me salvar de ser refém dela no banheiro, e agora resgatou o gambá fingido dos caninos dos meus cães, e a mim ao mesmo tempo, me tirando o fardo de levar um gambá morto e estraçalhado pra fora do quintal!

No fim, todos se salvaram!

1 comentários:

  1. E, como diria o professor Raimundo "e o salário, ó....." :D

    Brincadeira... foi divertido pacas!
    E o que é melhor... nem fedeu!

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