sexta-feira, 4 de junho de 2010




Caminhavam lado a lado na extensa areia da praia. A bela tarde ensolarada se despedia colorindo com seus tons alegres o céu, normalmente azul de primavera, com espetaculares alaranjados, dourados e cor-de-rosas avermelhados. Beleza indescritível. Estavam felizes. Lado a lado.

Era o primeiro ano juntos. Comemoravam. Um hotel perfeito, de frente para uma paisagem perfeita, num entardecer perfeito. O mês de Setembro e seu calor abafado tornavam a beira do mar do Leme um dos locais mais atraentes do Rio de Janeiro. Ela sentia-se protegida e feliz. Abraçada ao seu marido, caminhava ao longo da orla.

Levantava os olhos para fitar seu rosto e recebia sempre um sorriso bem humorado. Aconchegante. Dirigiram-se para a beira do mar, onde as pequeninas ondas do cristalino mar azul-esverdeado passaram a molhar os pés deles, refrescando levemente seus corpos.

O sol se pôs dando um espetáculo de cores e as estrelas tomaram o espaço onde antes houvera muita luz. E veio a noite escura, cobrindo com seu belíssimo manto de estrelas o casal em frente ao mar. Os holofotes de luz branca da praia, distantes, lá onde a areia da praia beirava o asfalto, eram apenas suficientes para iluminar o fundo do mar, onde ela podia ver conchinhas e alguns peixinhos.

Incrível como uma praia urbana podia ser tão bonita. Ela não se conteve, o mar a chamava, e deu uns passos em direção ao mar até que as mornas e transparentes águas cobrissem parte de suas pernas. O som lento das ondinhas quebrando vagarosamente sobre a areia era reconfortante, quase hipnótico. Ele segurava sua mão e mantinha-se ao lado dela, com os pés dentro d'água, experimentando aquela sensação perfeita... e inexplicável.

De repente ela sentiu um enorme desejo de se unir àquela beleza toda. Queria do fundo de sua alma entrar no mar. Precisava mergulhar, molhar seus cabelos, sentir as águas acariciando seu corpo...
Ela não estava usando roupa de banho e já haviam afastado-se bastante do hotel para voltar agora.

Então ele olhou nos olhos dela, leu seus desejos, leu sua alma e percebeu imediatamente como ela precisava daquele momento com o mar. Ele não compartilhava do mesmo sentimento, mas compreendia o que sua esposa queria... Sorriu para ela, envolvendo-a num abraço e depois, soltando-a lentamente disse:

- Fique nua. Nade de calcinha... Eu não me importo. São só o mar e você, eu ficarei aqui da areia olhando. - E sentou-se na beira do mar a fitá-la.
Olhou em volta vendo a praia vazia, envolta em penumbra, sentindo o calor da noite.

Ela foi invadida por uma felicidade extrema.
A sensação de liberdade era divina!

Estava ao lado de um homem que a compreendia e que não deixaria que as imposições sociais ou bobagens machistas impedissem que ela experimentasse aquele momento único...
Por pequenos e importantes instantes ela teve plena consciência do quão sortuda era, por estar ao lado desse homem que a deixava viver sua liberdade! Ele confiava nela, compreendia a invisível conexão entre eles e sabia que nada abalaria esse vínculo. Então, esse homem, apesar de estarem no meio da cidade, naquela praia urbana, com pessoas que eventualmente caminhavam por sua orla e passavam por eles, não se importava que sua esposa estivesse nua nadando no mar... como desejava.

Ela rapidamente despiu-se, mantendo apenas a calcinha branca e mergulhou no mar entregando-se àquele mágico momento. Brincou como criança nas águas mornas do mar que banhava o litoral da Cidade Maravilhosa, sentindo-se a mais livre e feliz das mulheres.

Ela sorria para ele de dentro d'água e seu sorriso, mais iluminado que o luar sobre as águas era tudo que ele precisava ver...

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