domingo, 12 de setembro de 2010

Saía eu da faculdade (é, aula extra no sábado!), no horário marcado, naquela bela tarde de sol para encontrar um sujeito incrivelmente interessante. Longas horas de conversa que fluía entre nós, com um completando a frase do outro, pensamentos conectados, gostos similares, sensibilidades extremas. Incrível, um sujeito legal, romântico e sensível a ponto de me entender sem que eu precisasse explicar muito, e, aos 44 anos, ainda solteiro e sem filhos! Bom demais?


Ok, ok. Nem tudo era perfeito. Eu sabia que ele media apenas 1,73m de altura, coisa que pra mim, é abominável. Mas, claro que aparências nunca me importaram realmente e eu queria me provar que poderia me interessar por um homem baixo. Também dera sorte ao ter encontrado um cérebro com sentimentos como o dele,  e não deixaria um mero detalhe me impedir de conhecê-lo.


Estava animada. Era a chance de me livrar dos meus urubus -aqueles que rondam esperando o momento de atacar -, dos fantasmas - aqueles que já se foram, mas ainda me assombram nos pensamentos ou com aparições que me perturbam -, e das frustrações dos últimos meses. Talvez ele fosse "O cara". Nossa, ainda não desisti?

Então, eu caminhava desfilando com os quadris, subindo as escadas do prédio para sair à rua e encontrá-lo: maquiagem rosada leve e delicada para a tarde, blusa pink com sensual abertura nas costas, calça jeans preta justinha no corpo para modelar e meus charmosos sapatos de oncinha pink. Celular no ouvido, ia pegando as direções dele, e indo ao seu encontro já que não o tinha visto por foto.

Alguém pode perguntar: como assim você não o viu por foto? Pois é, não me perguntem... Na era da câmera digital o cara me disse que não tinha máquina e que saía mal nas fotos, por isso preferia não usar. Eu respeitei. Além do mais, ele disse que se sentia bem consigo mesmo, o que - não sei por quê - me tranquilizou.

Eu estava preparada para encontrar um homem baixo e feio. Mas não estava preparada pra'quilo!!!

Avistei de longe o sujeito, também com o celular no ouvido, falando comigo, mas não acreditei! Não apenas era baixinho, mas também era redondo! Como um boneco de neve. Aquela cabecinha redonda, aquela barriga redonda! Perdi até o rebolado e, ainda distante pensei, vou correr daqui! Socorro! Mas fui educada, marcara de conhecer o cara, então tive que ir em sua direção.

Comecei a reparar no modo como ele andava... As perninhas finas saindo debaixo da barriga redonda andavam chutando pro lado (tipo dez pras duas!), e ficava feio demais na bermuda com tênis que ele usava. Meu deus! Jura que eu tenho que olhar pra ele o resto da tarde? Ai, ainda dá tempo de correr... vou pro outro lado! Pensei tudo isso e muito mais, mas corajosamente fui ao encontro dele.

Chegando perto o terror me dominou! Olhos, nariz e boca todos juntinhos no centro da cabeça redonda, cercada por cabelos cinzentos meio cacheados e bagunçados, pedindo um corte há meses. Não havia pescoço! Os ombros eram pequenos em relação ao resto do corpo e os bracinhos, meio compridos e finos demais, pendiam ao lado da barriga. Ele sorria pra mim... Ai, será que estou conseguindo sorrir sinceramente de volta? Meu sorriso obviamente foi amarelo ovo.

Andamos em direção ao táxi e, no caminho até o Forte de Copacabana para ver o pôr-do-sol, nunca achei a cidade tão linda! Olhava pela janela do carro como uma turista encantada, apenas para não ter que olhar pra ele, com aquela cara embasbacada pela minha presença. Momentos tensos, em que eu tive que usar toda a minha desenvoltura natural para buscar assuntos que me deixassem um pouco mais à vontade.

Gentil, ele pagou o táxi e carregou minha pasta cheia de livros pesados, mas não foi capaz de pagar meros R$ 10,00 para o meu ingresso no forte. Ok, sem problemas. Já que estou aqui, vou me divertir - pensei. Sentamos numa das mesinhas ao lado dos muros do Forte, a tarde caindo belíssima, o mar de um azul incrível, ventinho fresco brincando com meus cabelos... e aquele sujeito medonho ao meu lado! 


Eu me sentia uma modelo fotográfica ao lado daquele sujeito baixinho, redondo, feio e deselegante. Como podia, eu toda trabalhada no pink com sensualidade de oncinha e o cara de bermuda, tênis com meia e uma blusa comum grudada na barriga?! Medonho o quadro! Ai, que ninguém conhecido me veja!

Imediatamente, para aliviar a tensão, pus-me a falar e contemplar o mar, mas volta e meia tinha que olhar pra ele e... Ele me olhava com olhos grandes, pretos e deformados por trás dos óculos fundo de garrafa, com armação vermelha!!! Sorria, encantado comigo e eu via seus dentes separados... Caraca! Será que tudo naquele homem era feio demais?! 


Foi quando ele virou a cabeça pra chamar a garçonete e... Não! Eu estava mesmo vendo isso? Ele tinha uma clareira enorme no centro da cabeça onde faltavam cabelos!!! Era feio demais pra kct à beça! E aqueles cachinhos cinzentos mal cortados cercando o buraco... Não podia ficar pior???

Ficou! O sujeito começou a fazer carinho na minha mão, tocando minha pele do braço e eu tive convulsões internas. E ia dizendo o quanto eu era linda, meus olhos eram lindos, meu sorriso era encantador, meus cílios eram sei lá o quê, minha inteligência, carisma, presença e brilho, eram sei lá mais o quê de bom... e eu ia pensando, constrangida, que não poderia dizer nada sobre ele. Obrigada.

Ainda tinha o perfume... Ele me disse que adorava perfumes, que o cheiro da pele era importante e tal, mas então, O QUE ERA AQUELE CHEIRO?! O perfume dele tinha cheiro de chá mate com açúcar demais misturado com capim! Nojento! Ainda bem que o vento do mar trabalhou a meu favor e coloquei uma cadeira estrategicamente distante dele. O mais distante que pude...


Ainda havia o problema da idade... Ele havia me dito que tinha 44 anos, mas não me contou que tinha aparência de 54! Mal vividos! Eu olhava pra ele, e me sentia uma adolescente, de pele rosada e viçosa do lado de uma árvore velha. Sensação bizarra!

Algumas horas depois fui salva pelas minhas amigas que estavam por ali e me dariam carona de volta pra casa. Então pedi logo a conta. Fui ao banheiro (não queria dar o golpe, só fazer xixi antes de ir) e quando voltei o sujeito tinha pago, mas disse:
- Deixei a metade pra você, tá? - e se levantou pra ir ao banheiro me deixando sozinha na mesa.
Não acreditei! A conta tinha dado meros R$ 30,00 e o sujeito pagou só a metade?! Tudo bem que sou uma mulher moderna e que acho que temos que dividir as coisas, que homem não tem que pagar tudo, mas... aquele valor pequeno e o cara ainda dividiu??? Deprimente!

Pior que isso só caminhar ao lado dele saindo do Forte e ouvi-lo perguntar:
- Posso segurar sua mão? - seguiram-se segundos de desespero, a vontade de sair correndo voltou...
Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaao!!! Pensei mas não disse nada.
Ele pegou minha mão, dura e incomodada, e sorria feliz passeando comigo e dizendo que adorava andar de mãos dadas! Hein?! Eu quase tremia, doida pra arrancar meu braço dali e cessar o contato físico com ele. Tortura total!

Sinalizei rapidamente pro primeiro táxi que passou, enquanto ele alisava minha mão que mantinha cativa... Momentos finais... força! Dentro do carro ele pegou minha mão de novo e eu queria gritar! Foi acariciando irritantemente minha mão até o Leme, que pareceu o lugar mais distante do mundo de Copacabana, onde eu estava.

De repente me libertei de sua mão, pois usei as duas mãos para segurar o telefone celular e ligar p'ras minhas amigas que me aguardavam num bar no Leme. Claro, e conversei com uma delas no celular usando as duas mãos também! Ufa, esse celular é pesado, né? Tenho que falar usando as duas mãos! rss  Tudo pra me livrar daquele toque íntimo que eu não queria.

Aí ele disparou:
- Me apresenta a sua amiga?
Ah, não!!! Ele queria ficar no bar comigo e as meninas! Eu não podia mais ficar um só minuto ao lado dele, e pior do que isso seria entrar de mãos dadas com aquele sujeito feio pra elas me verem!!! Isso não podia acontecer! Elas iam achar que eu o tinha beijado!!! Impossível!!! O que eu faria?! Rápido, pense! 
- Elas já pagaram a conta. Estão só me esperando. Acho melhor você seguir no táxi pra sua casa. - respondi,  deixando óbvio que não queria que ele ficasse. Para meu alívio, ele aceitou, meio a contra-gosto, perceptivelmente frustrado.



Saltei do táxi aliviada. Sozinha! Feliz! E dei uma última olhada só pra ver através do vidro de trás do carro, a coroinha careca daquele baixinho sumindo na noite... Que imagem dramática! Hahahahah
A alegria tomou conta de mim a partir daquele momento e entornei várias cervejas rindo com os amigos na mesa do bar, e falando besteiras. Foi como se só naquela hora minha alma voltasse ao meu corpo.
Amigas, amo vocês!

2 comentários:

  1. Caracaaaaa... que situação bizarra! To rindo muito da "cara redonda e centralizada". Ele tá fora do alfabeto! rs.. Bjs.

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  2. mas nao estava rolando uma era de "nao mais encontros"? kkk

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