sábado, 10 de abril de 2010



Mais uma noite chuvosa depois de muitos dias e noites chuvosos. Apesar do carro quebrado e do trânsito ruim ele se dispôs a vir me ver de taxi mesmo! Incrível! Isso nunca tinha acontecido antes. Todos esses anos e tudo era motivo para adiar nossos encontros. Eu já nem ficava mais chateada. Aceitava, ele era assim e pronto.

Dessa vez eu já ia perguntando se ele iria adiar mais uma vez, após ele ter passado meia hora contando toda a dramática história dos problemas do carro, quando ele me surpreendeu dizendo que iria me ver mesmo de taxi. Eu já havia adiado na semana anterior para ir a uma festa com uma amiga e ele estava com tesão. Adorei! Reuni o meu tesão, sempre disponível para o Super Homem, e me animei para o encontro.

Sugeri então que fôssemos a um motel ali próximo, mesmo que fosse a pé. Eu não me importava. Aliás, quem se importaria em entrar com um homem lindo e daquele tamanho, de mãozinhas dadas, exibindo aquele espécime masculino à tira colo??? Só sendo louca! Entrar num motel com um homem daquele é tirar muita onda!

E assim fomos. 

Só havia um detalhe. O tal motel foi palco da minha primeira transa com Wolverine. O fantasma do Lobo ainda andava ali. Eu não pensava nele há uns dias, achava mesmo que estava agora 100% curada da apaixonite, mas eis que surge essa situação. E eu quis encará-la. Eu conheceria mais sobre mim, sobre meus sentimentos, se passasse por esse desafio.

Andava pelo caminho, ladeado por arbustos verdinhos recém regados pela chuva dos últimos dias, em direção à entrada do motel de mãos dadas com aquele lindo e carinhoso super homem de quase 2 metros de altura e forte estrutura muscular, de movimentos lentos e precisos, de pegada forte e coração solitário. Grande conhecido meu e querido amigo-amante de tantos anos. A intimidade era total entre nós. E eu me sentia quase confortável (apesar de estar entrando num motel a pé, sendo vista por muitos estranhos, em uma rua super movimentada - coisa que a maioria das mulheres teria pavor), se não fosse pela lembrança do Lobo.

Eu não sabia que aquele fantasma podia ainda me assombrar. E à medida que ia andando com o musculoso homem em direção ao quarto, ia percorrendo exatamente os mesmos corredores que antes percorrera com o Lobo, em nossa primeira vez. Ambos estavam de mochila, ambos enormes, ambos queridos...
Eu apertava os olhos na penumbra do longo corredor de apartamentos para ver o rosto do meu acompanhante. Mais alto, de pele mais branca, mais forte. Não, não era o Lobo.

Enquanto caminhávamos lado a lado, eu volta e meia olhava para o rosto dele para certificar-me de que não era mesmo o Lobo... era só o Super Homem. Estranho entrar ali com outra pessoa depois de ter estado ali com o Wolverine. Não, não havia barba. Meu lindo amigo tinha feito a barba para mim. Não era a barba do Wolverine que aparecia em seu rosto. O cheiro também não era do Lobo; Super Homem usava Quazar.




Finalmente chegamos à porta do quarto, que era imediatamente ao lado do que havia sido o meu e do Wolverine poucos meses antes. O fantasma estava na minha frente. Eu ainda o via ali, entrando comigo, meio sem jeito. Definitivamente não eram as passadas certeiras e determinadas daquele homem que sabia exatamente o que fazer comigo, coisa que o Lobo não fazia ideia naquela nossa primeira vez.

Foi estranho olhar para a mesma posição de espelho e cama e lembrar daquele rosto barbado querido, meio tenso por estar a sós comigo num motel, traindo sua esposa pela primeira vez. Encarei o fantasma do Lobo. Sorri pra ele. Era passado. Um passado saudoso, gostoso e querido, mas passado.  Sussurrei baixinho o nome do Super Homem, só pra ouvir que não era o Lobo.

Super Homem estranhou meu comportamento, diferente. Eu parecia nervosa. Como se fosse a primeira vez.
Gosto de déja vu.
Foi quando olhei pro fantasma do Wolverine, ainda ali me espiando ressabiado, balancei a cabeça e fechei os olhos espantando sua presença e depois, quando abri, corri sorrindo através da cama para abraçar o Super Homem de pé e beijar sua boca com tesão.
Gosto de Super Homem mesmo...
E, naquela noite, o Lobo não voltou.


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