sexta-feira, 2 de abril de 2010


Bóia. Apoio. Muleta.... Chame como quiser. As pessoas-bóias não recebem a devida importância. Acho que vou sugerir ao Governo que se crie o dia internacional dos/das bóias. É uma homenagem devida. São pessoas extremamente importantes no processo de substituição de uma dor por um dia-a-dia normal. Amenizam o sofrimento daqueles que amam e perdem, daqueles que não têm mais a possibilidade de estarem juntos do ser amado. É uma posição digna. É uma função social importantíssima!

Não, não é justo fazer de uma pessoa uma bóia. Mas quem disse que a vida é justa? E pior ainda o amor... Quem disse que o amor é justo?

Bóia é aquela pessoa que você não ama, mas também não odeia. Que preenche seu tempo, que te dá carinho e atenção enquanto você pensa no falecido. É aquele que te liga no meio do seu "momento de corno sofredor", quando faz a retrospectiva inútil do que aconteceu, mentalmente buscando novos fatos para integrar o seu dossiê dos desesperados. O bóia é aquele em quem você se agarra buscando um pouco de paz, normalidade e até prazer.

O bóia pode ser alguém distante que te envia e-mails apaixonados que te distraem com uma visão romântica gloriosa de futuro juntos, quando tudo que você sente é saudade daquele que não está mais com você.
O bóia também pode revestir-se do formato de uma companhia para noites picantes e mal sabe que quando você fecha os olhos é no outro que você está pensando. Quando lhe acaricia os cabelos, é o tato dos cabelos do outro que você sente entre os dedos... Quando beija seus lábios é o sabor da boca do homem perdido que você prova.

Enfim... O bóia não é amado, mas é parte integrante das nossas memórias como alguém a quem não demos valor enquanto tivemos, mas alguém que terá eterno valor como salvador das nossas próprias angústias.
Simplesmente é aquele próximo da fila. Aquela fila que todo mundo diz que anda, logo depois de uma perda amorosa. Bobagem. Não anda. Temos que passar pelo negro período do luto (que é totalmente necessário).

Então, enquanto você sofre vestida de preto, o bóia aparece e te leva pra jantar, termina num bom motel. Toca seu corpo com fervor e se contorce por você, enquanto você lembra do tamanho do outro e do tesão que ele te fazia sentir. Ele te faz rir e te elogia, aumentando sua auto-estima esmigalhada por aquele que se foi.
O bóia tem saudade de você pois ele recebe os entusiasmados carinhos que você está mentalmente dando ao ex. E ele acha que é pra ele. E adora! Quem não adora carinhos cheios de amor? Pena que é por outra pessoa.

E um dia você está bem. Bem o suficiente para nadar sozinha. E aí a bóia não é mais necessária. Adeus bóia, e obrigado pelos seus serviços. Te adoro, seja feliz. E, nessa hora, provavelmente será a hora do bóia encontrar sua própria bóia para se agarrar e sofrer menos a separação de você.

2 comentários:

  1. Amiga,cada vez mais eu vejo uma escritora em vc, uma cronista daquelas!Um misto de Ivan Martins, Martha Medeiros e Regina Navarro , vc é jovem,atual,concreta, realista,eu simplesmente leio oq vc escreve e acho que um dia tudo isso deveria ser publicado!Esse texto então:CARA de Revista feminina!(Das boas!Diga-se de passagem).Eu acredito sim que todos desejam um amor,o ser solitário ñ torna ninguém feliz,pelo menos ñ por muito tempo.A vida já é muito complicada, entre adultos, qdo há diálogo um diáloo explícito das reais condições, a possibilidade de "relacionamentos-bóias" é muito interessante!Ele pode evoluir(ou não),e se tornar um amor(já que a vida nos prega surpresas),ser apenas uma amizade "colorida"(como diziam na minha época.rs),ser ainda a possibilidade de estar perto de alguém com quem se tem afinidades, dar boas risadas, relaxar, não dar tempo para deixar aquela amargura entrar,e, ao invés de ficar remoendo o "ninguém me ama, ninguém me quer", acordar bonita,com a pele viçosa e brilho nos olhos.Compartilhas bons momentos é essencial para todos os seres humanos,é o que nos move,o que nos faz conseguir prosseguir e aguentar mais um dia de trabalho.E é inerente à nossa espécie a necessidade de contato e tato.Sim, por que contato se faz tanto com os olhos, quanto com a voz,com a sua presença, ainda que digam que com os olhos vc tb pode tocar uma pessoa,a necessidade fisiológica do toque na pele é inegável,o carinho afetuoso, o abraço,desperta em nós reações fisiológicas fantásticas.Se o tato ñ fosse tão importante, pq a pele seria o maior órgão dos seres humanos?Ñ sei em outros planetas, mas nesse aqui,sobretudo,nós e os outros latinos com certeza somos um pouco mais felizes em podermos abraçar, tocar sem correr o risco de nenhum processo ou sanção.Em suma, ter um "bóia" faz bem para saúde!Física e emocional.Falando em emocional...Só ñ recomendo bóias às MAD-Mulheres que amam demais...Neuróticos todos somos(graças a Deus!), mas a estrutura obsessiva dessas mulheres jamais as permitiria serem feliz com um Bóia,se tratem primeiro, gostem-se mais e depois sim, desfrutem dessa possibilidade.Sem ilusão e expectativas.Seja enquanto o amor ñ chega,seja para ajudar a curar as dores de um amor q já se foi,seja para experimentar e descobrir novas possibilidades...O importante é se permitir.Ñ há mais vínculos entre anormalidade e comportamentos desviantes,ñ é pq nossas mamães se casaram virgens com bouquet de flor de laranjeira, nos ensinaram a esperar o príncipe que chegará num cavalo branco, que não possamos romper padrões estabelecidos.Isso não nos torna loucas ou perversas, pelo menos por aqui,talvez só lá no ocidente,mas já que aqui vivemos,descobrir novas formas de amor e de felicidade nos é permitido,e desse modo, pq ñ arriscar?
    Bj gde

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  2. Mel, querida, obrigada pelo comentário e pelo suporte à minha singela concepção de vida. Acabei de escrever algo meio contrário ao que tão bem defendi aqui no texto "Fardo de ser um mulherão". Mas essa sou eu, contraditória e mulher que reflete e se reinventa. Com certeza amanhã acordarei me sentindo um belo mulherão e viverei bem com meus bóias! hahahah
    Beijos mil

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