sexta-feira, 30 de abril de 2010



Quinta à noite e o telefone toca. Um homem que eu estava por conhecer pessoalmente, e já não tinha mais esperanças, me ligou. Convite para um vinho, conversa animada, bom humor. Hum, que surpresa boa! Todo mundo merece tomar um bom vinho num bom restaurante com uma boa companhia numa noite qualquer.

E assim fui eu. Contrariei meu pai, que pretendia passar a noite curtindo a eterna filhinha, coloquei um vestido preto decotado que me caía super bem, caprichei na maquiagem, completei com um suave perfume doce e sensual, subi nos saltos (claro!), e fui conhecer o tal homem.

Ele dirigia e eu reparava em sua voz mais alta do que devia. Imaginei quantos segundos se precisa para saber que não é ele o homem com quem você terá um romance lindo e cheio de tesão. Pois é. Não era ele... Ele falava como um "cara do botequim da esquina" de tão alto...

Mas a noite tinha apenas começado e eu pretendia me divertir. Estava precisando disso! Enquanto olhava o quanto ele era feio, com aquela aparência de árabe mal desenhado, divertia-me com os elogios à minha personalidade extrovertida e com suas boas e inteligentes tiradas. Interessantíssimas histórias, extremo bom gosto na comida. Sinal de quem já havia experimentado bem a vida. Cativante...

Após algumas horas de boa comida, bom papo, boas gargalhadas, ele me deixou em casa, me chamando de amiga, feliz por ter me conhecido e passado aquela maravilhosa noite comigo. Abriu a porta do carro, pagou o restaurante, não poupou a sobremesa, mas se despediu com um abraço... Me prometeu diversas outras noites divertidas como aquela. Claro! Sempre!

Ok, não foi dessa vez.

Sexta à noite. Estava em casa tomando minha taça de vinho com amigos. O telefone fixo (ainda se usa isso?!) tocou e eu já esperava a voz da minha mãe quando ouvi a grave voz de outro homem. Esse era um que chamei de menino logo que vi. Despachei-o de vez, e conto a seguir por quê.

Já havíamos nos encontrado há uma semana e foi um desastre pra mim. Lindinho, loirinho, lindos olhos azuis, corpinho compacto e fortinho, simpático sorriso, carinhoso... todo perfeitinho. Eu sabia que ele tinha 32 anos como eu e que eu preferia homens mais maduros, mas fui tentar. E eu detestei!
Também levou apenas alguns segundos para eu decidir que ele não era homem pra mim e uns minutos a mais para querer levantar da mesa do bar e sair correndo.

Olhava para o "Ken" ou "Bob" (aqueles bonequinhos namorados da Barbie e Suzie) que eu tinha à minha frente e via sua expressão de encanto ao me olhar. Mas não ouvia sua voz. No incômodo silêncio que se formou entre dois estranhos, eu me via obrigada a tomar a palavra. Tomava também a iniciativa de chamar o garçom, de pedir uma sangria (pois o infeliz não bebia nem pra me acompanhar!) enquanto ele bebia um estúpido guaraná, de entretê-lo com histórias da minha vida, e até de pagar a conta.

Quando pedi que ele me contasse mais sobre sua vida (coisa que não se precisa pedir quando o ser humano que te acompanha tem conteúdo) ele simplesmente se limitou a me dizer que já tinha me contado. Como?! Que eu me lembre, ele escreveu umas 25 linhas no MSN resumindo sua trajetória de vida em cinco míseros pontos, que poderiam resultar em tese de mestrado de tanto conteúdo que deviam conter, nas mãos, claro, de uma pessoa interessante. Bem, com certeza um homem que não acha que sua própria história é interessante para contar a uma mulher inteligente que está conhecendo agora, não é competente para me cativar. Sendo assim, pedi a conta e paguei o guaraná para o menino.

Para terminar com qualquer chance de entendimentos, ao sairmos do bar, ele me abraçou pela cintura para caminhar ao meu lado, após me dar um beijo na boca sem graça e sem sal nem pimenta. Nem acredito que ao passar meus braços pelo corpo dele para abraçá-lo, lado a lado, alcancei os seus ombros!!! Sim! Era como andar abraçada com uma criança de 10 anos! O sujeito simplesmente era mais baixo que eu, nos meus naturais saltos, o que me fez sentir mãe dele! Nojento!
Definitivamente impensável!

Nova tentativa.

Domingo à noite. Pela internet eu jogava meu tempo fora. Mas dessa vez com um homem mais velho de uns 40 anos, de outro Estado, independente, sem filhos, inteligente e cavalheiro. Quando me disse que tinha 1,95 m de altura eu fui à loucura! Nossa, bem que podia ser esse!

Um sujeito sozinho, novo morador da minha cidade, perdido... seria meio dependente de mim. Solitário e bem sucedido, poderia ser uma ótima companhia. Ainda mais com 1,95! Só o Super Man conseguia ser mais alto que isso. Me animei toda e o convite veio ali mesmo pelo MSN, lá pelas 8 da noite de domingo.
Ele me convidou para tomar um vinho que havia comprado para seu novo apartamento. Pagaria o taxi de ida e volta. Claro, eu mereço conforto.

Escolhi um vestido vermelho tomara-que-caia para realçar minhas marquinhas de biquíni, que eu tinha reforçado naquela manhã na praia com uma amiga. Coloquei um perfume suave por causa do calor, maquiagem leve e sapatinho tipo de princesa, cor-de-rosa, que combinava com minha pele pós-sol.

O taxi confortavelmente me levou a um belíssimo e impressionante belo prédio no meio do bairro mais sofisticado da cidade. Humm. Estava ficando mais interessante. Saltei e não o vi. Na verdade, nem sabia direito como era seu rosto, porque esses encontros de internet são quase no escuro, mas sabia que deveria ser um homem que me impressionaria com sua altura.

Bati os olhos em um sujeito enorme, ao celular, suando em bicas e com um maço de cigarros na mão. Ele olhou para mim, acenou com a cabeça e continuou falando no celular por vários minutos, discutindo o novo contrato de locação do seu apartamento. Bem, era ele. Mas definitivamente NÃO era ele!

Explico.
O homem sorriu e seus dentes eram tão separados que me lembrou o Ney Matogrosso! Ele me recebera suado demais e mal pôde me dar um beijo no rosto por estar completamente melado. Péssima maneira de se impressionar uma mulher! Enquanto ele falava ao celular, eu o observava andar desengonçado pela portaria do edifício e ele andava com as mãos curvadas próximas ao peito como um tiranossauro rex!
E mais, como se precisasse completar o quadro bizarro, ele acendeu um cigarro e empesteou os meus cabelos, meus pulmões e minha boa vontade!

Subi para o apartamento dele e tomei o vinho. Duas cadeiras de cozinha colocadas na varanda, uma em cada ponta, no apartamento vazio de um recém-chegado. Ele fumava como uma chaminé, o que me horrorizou! Mal sabia como me agardar, mas cometeu um erro grave: me ofereceu o vinho em copos comuns. Cadê as taças??? Imperdoável!

Ele me devorava com os olhos discretamente. Não como um carioca faria. Isso era ponto para ele. Não se insinuava demais e valorizava minhas histórias. Tinha bastante experiência de vida e parecia ser honesto, fiel e dedicado. Mas não deu!
Quando eu imaginava beijar a sua boca e me divertir com o que viesse depois, uma nuvem de fumaça de cigarro me atingiu no meio do rosto e eu senti aquele detestável cheiro de cinzeiro molhado invadir minhas narinas e revirar meu estômago. Impossível!

Não poderia imaginar a mulher das fotos sensuais do domingo anterior de mãos dadas e transando com um homem que parecia um T-rex desengonçado de dentes separados que expelia cinza de cigarro por todos os poros!


É, não foi dessa vez também...

Quando será minha vez? Será que estou sendo muito exigente?
Mas tenho mesmo que ser.
Alguém pra ficar comigo, tem que ser muito especial!

...

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