segunda-feira, 3 de janeiro de 2011



Depois de tantas festas, confraternizações, comemorações, eu já estava acostumada ao oba-oba.
Muitos dias em casa, pouco trabalho no escritório e muitas pessoas felizes. Final de ano é assim. Uma delícia!

Eu me internei no meu quarto nesses primeiros dias do ano. Ar condicionado, filmes no PC, comida caseira, boa companhia... Não precisava de mais nada. O mundo do lado de fora nem existia. Uma delícia!

Porém, a realidade dura, implacável, sempre volta para nos atingir, para nos tirar do sonho.
E aqui estou de novo, no batente.
Reflito e me pergunto por quê os seres-humanos se impuseram tamanho fardo... Oito horas por dia, cinco dias por semana? E olha que ainda sou uma mulher de sorte, pois há pessoas que trabalham mais que isso, muito mais...

São verdadeiras amarras sociais impostas. Quem disse que eu queria trabalhar fazendo o que faço? É um verdadeiro terror ter que acordar às 5:30h, levar 2h em um transporte público bizarro qualquer pra estar dentro de um prédio vedado, climatizado (leia-se frio), olhando para uma tela de computador e fazendo uma coisa com a qual não me identifico.

Isso é cruel!
Tiram tempo útil da minha existência para isso?! E mesmo se eu trabalhasse em algo que gostasse (seria isso possível?!), ainda assim, pra quê enfadonhas e longas 8h por dia?! Que exagero! E quando vivo? Quanto sobra pra mim?!

É sabido que ninguém produz 8h por dia. As horas são dispersas entre e-mails, cafezinhos, idas ao banheiro, conversas com os colegas e frequentes olhadas no relógio para ver se o dia acaba logo. Ah, e olhadas ao calendário, para ver se a sexta-feira se aproxima!

Tortura chinesa! Se os bichos, ditos inferiores aos seres-humanos, têm tempo livre, para usarem como querem, como podem os superdotados homo sapiens se impor tamanha escravização de tempo? E pior, como podem essas inteligentíssimas criaturas considerar outros humanos menos dignos apenas por estarem esses humanos desempregados? Os próprios desempregados têm a auto-estima afetada pela pressão social pelo trabalho. Pobrezinhos, atrelados ao sistema, não percebem que eles é que são felizes, posto que donos do seu tempo.

Dizem por aí: trabalho dignifica o homem.
Eu digo: Porra nenhuma! 
Digo: Trabalho atrapalha a vida do homem, que passa a viver de verdade apenas nos pequenos momentos que lhe sobram.

E aqui estou. Aborrecida sob essa exagerada luz fluorescente, ao lado de um telefone bege que só toca pra me dizer coisas que não me interessam, cercada por baias beges e pequenas, entre paredes beges e nuas, onde pessoas beges olham para suas telas de computador coloridas, obrigadas a ler normas da companhia, foco estratégico da companhia, planilhas que não lhes dizem respeito, entre outras baboseiras.


Quero o meu tempo e a minha vida só pra mim! Sinto-me aprisionada, ilhada de minha própria vida...

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