Turismo de compras
Petrópolis, cidade imperial, fundada por Dom Pedro II, cercada por natureza e tal. Nada disso importava. A ida a Petrópolis daquele final de semana tinha um objetivo menos nobre que o turismo cultural, mas não menos importante: comprar roupas de frio.
Sim, eu iria encarar a famosa Rua Teresa! Detestando confusão e tumulto como detesto, confesso que estava apreensiva com o que iria encontrar por lá. Os rumores sobre as sacoleiras enlouquecidas que consumiam tudo como gafanhotos consomem a plantação são bem conhecidos. E eu, inocente, despreparada, iria conhecer essa meca da compra de vestuário.
Acordei cedo e, com namorado petropolitano a tira-colo, parti caminhando até a tal Rua Teresa. Curtindo o frio da manhã que cedia sob o solzinho que ia se firmando, fugindo das sombras que volta e meia as nuvens formavam, fomos caminhando tranquilamente.
Chegamos, namorado avisou. E eu olhei a famosa rua cheia de lojas lado-a-lado até o infinito onde a rua devia acabar. Era um shopping a céu aberto. Poucas pessoas caminhando cheias de cachecóis e casacos, espaço na calçada. Hum. Parecia tranquilo. Vamos encarar.
Olhei uma vitrine, duas, três, dez, vinte. Ainda estava aquecendo os motores, me livrando do sentimento de pena só de pensar em usar o cartão de crédito. Entramos em algumas lojas. Olhamos, vimos preços. Realmente bem menores que nos shoppings do Rio de Janeiro e Niterói que estávamos acostumados. 50% aproximadamente. Hum. Interessante.
Foi quando passamos o cartão de crédito pela primeira vez numa loja de roupas masculina, que a avalanche de compras começou. Como se tivéssemos aberto o portão pra boiada passar ou tirado aquela pedrinha que dava o equilíbrio e impedia a avalanche de descer, começamos a caça predatória de roupas de todos os tipos.
Entrando, saindo, olhando. Vasculhando vitrines cada vez mais rápido. Depois de um tempinho, os olhos ficam habituados às vitrines coloridas e já buscam automaticamente os preços e as peças mais interessantes. Entrando, saindo, pesquisando. Eu olhava pra frente e a rua parecia não acabar. Se olhasse de novo, descobriria milhares de lojinhas enfiadas em galerias com solo, subsolo e segundo andar. Não acabava...
Comecei a comprar: casacos mais leves para o frio do Rio de Janeiro, roupas pra academia, blusinhas para trabalhar, calça de moletom, vestido, um pouco de tudo e com precinhos baratinhos. De repente, parece que a fome apertou e fui perceber que já estava na hora de almoçar. Meio-dia.
Como se despertasse de um transe, olhei a Rua Teresa de novo e agora parecia um inferno. Alguns vendedores gritavam com cabides nas mãos chamando atenção para as lojinhas do fundo das galerias; outros colocavam os filhos, desde já pequenos vendedores, com roupinhas de crianças nos cabidinhos, gritando como os pais. Restaurantes colocavam senhoras gritando o nome dos estabelecimentos e praticamente empurrando os passantes para dentro deles, carros se aglomeravam na antes vazia rua, sem se deslocarem, enquanto passantes ocupavam todos os espaços existentes entre os carros e as vitrines.
Apavorada, constarei que elas estavam ali. Elas existiam! As sacoleiras!!! Eu podia ver lá da porta das lojas, as criaturas enlouquecidas enfiando várias roupas ao mesmo tempo pela pequena abertura de suas bolsas, que apesar de enormes, já estavam cheias. Elas se acotovelavam disputando a atenção das vendedoras e o espaço no balcão, e talvez ainda, as últimas peças daquele modelo de roupa. Os sorrisos sombrios e olhos vidrados me davam medo. Pareciam possuídas pelo espírito das compras. Demoníacas!
Com dificuldade eu tentava me locomover. As calçadas pareciam tomadas por uma procissão de mulheres com malas e sacolas, e bolsas com rodinhas. Grupos de mulheres barulhentas, casais com crianças no colo e carrinhos de bebê (como e porquê alguém em sã consciência traz bebês e crianças pr'aquele inferno???) lotavam a Teresa.
Eu já tinha dado minhas compras por encerrado e, junto com meu namorado, costurava as calçadas em busca de espaço para andar e com muita esperança de encontrar um restaurante. Uma hora da tarde. Fome. Desespero das sacoleiras. Fome. Tumulto nas calçadas. Fome. Lojas impenetráveis... Caos!
Uma sombra me chamou atenção e eu olhei pro lado, e pra cima... o terror tomou conta de mim! Vi um mega super ônibus de viagem gigantesco despejando mais uma horda de sacoleiras barulhentas! E pior: atrás dele tinha outro igual! Meu deus, era uma caravana de compras! Socorro!
Agarrei a mão do meu namorado e praticamente fugimos da Rua Teresa com nossas próprias sacolas de compras. Meus largos quadris iam derrubando senhoras idosas (e lentinhas) e mulheres hipnotizadas pelas vitrines que paravam no meio da calçada, alheias ao caos. Pisotiei criancinhas. Confesso. Tive que fazer isso. Era para minha própria sanidade mental... Elas sobreviveriam. Deveriam até estar melhor adaptadas àquele inferno de compras, com suas mães "super safas de Rua Teresa".
Finalmente achamos o fim da rua! Desembocava em um largo onde se podia caminhar nas calçadas sem matar o próximo. Conferi as sacolas que carregava e vi se estava inteira. Fome. Olhamos pra frente e nos enfiamos no primeiro restaurante a quilo simpático que vimos sem fila. Ufa! Já não era mais Rua Teresa no sábado à tarde, poderíamos relaxar.
Meus pés formigavam e eu já não sentia minhas pernas. Seca, tomei duas latas de refrigerante gelado e sorri pro namorado. Que dupla! Enfrentamos a rua das sacoleiras e sobrevivemos com as nossas próprias caças!
Saldo positivo. Agora já aprendi: chegar cedinho e sair antes do meio dia!
Visitem um dos maiores pólos de moda do Brasil. Vale a pena! Com alguns pequenos cuidados... Divirtam-se e boas compras!
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