sábado, 4 de setembro de 2010

Num bar, uma mulher bebe cerveja e o sujeito ao seu lado bebe seu guaraná enquanto esperam o prato da noite. É o terceiro encontro. Ela demonstra algum afeto, inclina-se para ele e o beija. Ele corresponde, mas não parece muito à vontade. Ela percebe sua hesitação imediatamente e sente que ele está preocupado, com algo em sua mente. De repente ele diz:
- Você conheceu mais alguém depois de mim?
- Não.
E ele parecendo incrédulo, repete:
- Não?!
- Não. - diz ela simples e honestamente.
- Vou ser sincero com você... Eu conheci....
O silêncio se torna pesado, ela não sabe o que dizer, fica com cara de pastel (de que outra forma poderia reagir a uma confissão dessas? Para onde ele iria com aquele assunto?) Ela se recupera da porrada e tenta parecer compreensiva, mas muda. Ele continua, meio que se justificando:
- Mas você é a melhor... até agora... A gente tem essa... coisa. (Hein?!) A conversa. A gente conversa bem. E tem a pele... humm... - sorri sem graça e olha pra ela. Ela tem vontade de dar um soco na cara daquele imbecil, mas controla-se e pergunta:
- Bem, e onde você quer chegar com essa conversa? O que você quer?
- Eu vou ser sincero. Sabe, sou uma pessoa sincera. (Humm, é mesmo?! Sem contar que quase matou a avó na sexta-feira para arrumar uma desculpa convincente para desmarcar o encontro comigo...) - e ele continuou - E eu sou bem indeciso... O que eu quero?... Bem, quero continuar saindo com várias mulheres...
Sentiu como um soco no meio da cara.
Após alguns segundos de perplexidade, ela pisca os olhos sem acreditar na merda que ouvia, na fria falta de sensibilidade daquele espécime masculino, levanta uma das mãos em sinal ao garçom e dispara:
- Garçon... Mais uma caneca enorme de cerveja!

...

Fazia dez anos desde a primeira e única vez. Havia sido estranho. Ela o fizera de homem objeto. Fora intenso. Mas era outra fase de sua vida. Porém, apesar de tudo, ele guardava as melhores lembranças dela, de seu caráter, de sua inteligência e de seu carinho. Pelo menos assim dizia. (E eu devia acreditar?)
Finalmente eles haviam se esbarrado num ponto de ônibus e a vontade de se reverem nasceu.

Depois de longos meses de negociação marcaram um encontro. Tomariam um vinho e conversariam. Parecia divertido. Mas, na tarde do dia do encontro, ela recebeu uma mensagem no celular:
- Tive uma crise de asma. Não vou poder te encontrar.
Hein?!
Ok, pode acontecer. Ela deu crédito. Outro dia marcado. Sábado à noite. Outra mensagem no celular.
- Estou com problemas de família. Desculpe, não vou poder sair.
E depois ligou explicando:
- Minha avó e minha mãe brigaram. A coisa foi feia. Tá o maior climão aqui em casa...
Hein?!
Última tentativa. Sábado à tarde ele liga e pergunta:
- Posso passar aí?
Ela responde, na frente do espelho, terminando de passar o lápis de olho:
- Agora estou saindo para fazer unha. Pode vir à noite...
- Não. À noite vou sair com minha mãe.
Como assim?! Sair com a MAMÃE no sábado a noite e por isso não poder ver uma mulher que dizia querer tanto rever???
Sem comentários!

...

Sentados lado a lado, proibidos de se tocarem, faziam charme um para o outro, na conversa muda da sedução, da estática que rolava entre eles. Só a troca de olhares poderia denunciar o que sentiam. Se queriam... Ele acabara de dizer baixinho "Te adoro", como volta e meia fazia, encarando-a com aquele olhar sedutor.
Ele dizia:
- Eu quero ir te ver... - falava com culpa, olhando para o chão como uma criança se desculpando.
- Então porque não vai? É simples. Quando se quer, se vai... - ela parecia irritada, mas no fundo já sabia que não teria chance alguma de fazê-lo mudar de ideia, ele não era competente o suficiente para encarar uma vida com ela. Além do mais, já tinha percebido que ele não seria "O cara". Só estava pressionando alguns botões para ver como ele se saía.
- Não é essa a questão... - ele soltava essa expressão sempre que não tinha o que dizer numa hora difícil, pra ganhar tempo.
- Ah, não? Então qual é a questão? - dizia ela indignada.
- É que final de semana eu fico muito ocupado... Tenho compromisso hoje (Sexta! E qual seria?!), festas pra ir no domingo e na terça...
Jura que você falou isso, idiota?! Como assim, muito ocupado para mim?! Nossa, e alguém merece ouvir isso??? Trocada por festinhas e um nebuloso compromisso na sezta à noite? De qualquer maneira restam sábado e segunda...
Manteve seu rosto passivo, pensou por um segundo e disse:
- E sábado? Vai fazer o quê?
- Sábado eu vou à praia. - respondeu com sua mais chique cara de pau.
Hein?! Totalmente revoltada ela terminou:
- OK, escolha sua. Se há outras coisas mais importantes ou mais divertidas para você do que ir me ver, você já me mostrou que não sou assim tão importante como você diz que sou. Se você tem tempo para festinhas, pra sair com ex-namorada, praia, etc, é porque isso tudo é mais interessante do que ir me ver!
Seu estômago se contorcia de raiva pelas desculpas esfarrapadas que acabara de ouvir, na centésima vez que o convidava a repetir uma noite maravilhosa, cheia de carinho e cumplicidade, que haviam tido.
Queria poder gritar que fosse tomarnaquelelugar e não falasse com ela nunca mais!
Queria que, no final, ele se desse conta de que a queria, quando a tivesse perdido de vez para um homem realmente interessante, que a levasse a sério.
A questão era que ainda não havia esse homem. Mas ela o encontraria. Mais cedo ou mais tarde...
Ele ainda tentou retrucar, que não era nada daquilo, mas não havia nada mais sem sentido.
- É óbvia sua falta de interesse! - ela disse e o encarou determinada a acabar a discussão.
Ele levantou e saiu sem palavras.
Ela ficou. Perplexa.
Acabou!

...

Os encontros anteriores tinham sido deliciosos. Havia empatia, boa troca de ideias, sintonia, risos. Ele era divertido. Ela achava que ele havia se interessado bastante. Ele seria um cara no qual valeria a pena investir, embora, em princípio, parecesse não ter muito tempo disponível para um relacionamento. Bem, ela pagaria para ver.
Após uma noite maravilhosa, cheia de carinho, conversas na madrugada e sexo do bom, ela, mesmo cansada, na manhã seguinte, resolve enviar um carinho para ele. Queria demonstrar seu interesse, mostrar que aquilo era mais do que uma noite selvagem...
No e-mail que enviou pra ele foi sincera e levemente romântica. Com habilidade, mostrou o que queria: continuidade, cumplicidade, seu lado doce.

Ele mesmo havia começado com aquelas conversas via e-mail. Era gostoso e ela se via, volta e meia, verificando a caixa postal em busca de recados dele, das pequenas demonstrações de afeto... A maioria das vezes não lia nada dele, mas às vezes era brindada com uma mensagem qualquer.
Então arriscou algumas mensagens anteriores. (Não poderiam acusá-la de não tentar, de não se expor.)
Mas, das outras vezes, recebeu apenas  incompreensíveis "..." como resposta. O que aquilo queria dizer?

Dessa vez nem isso.
Silêncio.
Descaso.
Demonstração de falta de interesse.
Outras prioridades na vida.
Falta de espaço para ela.
Para quem dizia "te quero tanto", o silêncio dele foi bem significativo.
Melhor desistir.

...

Quem atura tanta frustração em tão pouco tempo e na sequência?
Quem permanece de pé depois disso?
Quem segue tentando?...

- Eu!

2 comentários:

  1. Como assim? Fiquei pasma. Depois que vc falou que ele não tinha interesse, ele foi embora mesmo? Sem falar nada.. ou escreveu isso no sentido figurado?

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  2. Fique pasma amiga, ele foi embora sim. Nada figurado! rsss Eu mereço esses manés!

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