quinta-feira, 7 de janeiro de 2010





Genial o texto de Ivan Martins da revista Época. Resume o que eu vim escrevendo aqui sobre amor e solidão. Sumariza com genialidade esse mito do amor romântico que eu sempre combati. Mas que, no fundo, todo o ser humano ocidental dos anos 2000 é compelido a desejar (e eu tb).
Serve para alertar, abrir nossos olhos. Nós devemos nos bastar. Colocar no Outro a única solução para a Própria felicidade é burrice.

E, esse texto também vem me ensinar e me fazer refletir mais um pouco. Então, continuarei com essa temática reproduzindo alguns trechos do texto do Ivan aqui no blog.

A solidão essencial  - O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Mito dos andróginos
Os seres parte homem e parte mulher eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

A maneira como nós interpretamos, modernamente, esse antigo mito é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro) jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo.
Outros acreditam apenas de vez em quando.
Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Questionamentos
É essa uma ideia construtiva?
É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer?
É bom adiar futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos?

Argumentos de Autoridade sobre o "amor romântico"
Jurandir Freire Costa - psiquiatra e psicanalista pernambucano e autor de um livro com estudos sobre o amor romântico. É especialista em sentimentos e  emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).
  • O amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.
  • O amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada.
  • Não existe um jeito eterno e imutável de amar.
  • O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história.
  • Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?
Exemplos de amores diferentes
Estamos acostumados a ver o amor como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si.
  • Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.
  • Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias. Ex: amigo nissei que havia morado no Japão -lá, eles acham que casamento é uma coisa muito séria para ser decidida por paixão. Se você vai passar a vida com alguém, as compatibilidades devem ser mais importantes que o desejo.
Ideologia do amor

A ideologia do amor sugere que é impossível ser feliz sozinho. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto.

Verdadeiro: pessoas sem parceiros tendem a ser menos felizes
Também Verdadeiro: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade

Nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.
Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

A felicidade amorosa é falsa
É uma forma de propaganda enganosa. Conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Outro foco do mito do andrógino
Outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.
Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos.
O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.


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